sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
A Música Segundo Tom Jobim
08:38 | Postado por
São Paulo |
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"A Música Segundo Tom Jobim" é um ótimo filme para ser ouvido.
Nelson Pereira dos Santos merece todo respeito não só pela sua idade, um senhor de 83 anos, mas principalmente porque tornou-se um dos mais importantes cineastas brasileiros. São dele, apenas para citar alguns, "Rio 40 Graus" (1955), "Boca de Ouro" (1963), "O Amuleto de Ogum" (1974), "Memórias do Cárcere" (1984) e tantos outros, sem nos esquecermos de "Vidas Secas" (1963), adaptação do clássico da literatura escrito por Graciliano Ramos e que foi indicado à Palma de Ouro em Cannes. Como, então, criticar o trabalho de um diretor como Nelson? Pior, como discutir uma obra sua na qual o assunto são as criações musicais do mestre Antonio Carlos Jobim, no documentário "A Música Segundo Tom Jobim"? Sim, porque praticamente todo o mundo concorda que Tom foi um dos maiores gênios da música popular brasileira. Isso não há como discordar. A questão é que "A Música Segundo Tom Jobim" possui uma grande armadilha - ou então uma genial estratégia.
Primeiro, Nelson Pereira dos Santos garantiu sua importância na história do cinema, mas também cometeu equívocos - quem viu "Brasília 18%" (2006) entende o que estou dizendo. Depois, muita gente já escreveu que documentários não têm obrigação didática, o que não me parece exatamente pertinente. Se não for o documentário a nos fornecer informações com certo didatismo, qual outro gênero poderia se encarregar dessa função? National Geographic e Discovery Channel entendem bem disso.
Mas como "A Música Segundo Tom Jobim" trata de.... as músicas de Tom Jobim, aqui reside a armadilha. Não há como não se emocionar ao ouvir "Garota de Ipanema", "Se todos fossem iguais a você", "A felicidade", "Insensatez", "Eu sei que vou te amar", "Chega de saudade", "Samba de uma nota só", "Desafinado", "Água de Março" e mais uma dezena de pérolas compostas por Tom. Ocorre que ouvir essas indiscutíveis obras-primas é uma coisa. O que Nelson Pereira dos Santos e sua codiretora Dora Jobim fizeram foi reunir imagens/clipes dessas canções não somente com corpo e voz de Tom, mas também na interpretação de outros artistas - Frank Sinatra, Errol Garner, Oscar Petterson, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughn, Elis Regina, Henri Salvador, Fernanda Takai, Sammy Davis Jr., Judy Garland, Birgit Brüel, Lisa Ono e muitos outros. A ideia, claro, é mostrar o poder de influência e penetração das composições de Tom Jobim em outras partes do mundo, em diversos idiomas. Tudo muito bacana, mas nada diferente do que programas já conhecidos de uma MTV ou VH1 já fizeram. Ou, mais contemporâneo ainda, o que é facilmente possível encontrar no YouTube, quando uma busca por Michel Teló nos apresenta vídeos com as várias e inacreditáveis versões de "Ai, se eu te pego" em português, inglês, alemão e até polonês.
Em "A Música Segundo Tom Jobim" só há música. E como é um documentário sobre música, e não sobre Tom Jobim, não há depoimentos. Ninguém que tenha conhecido, convivido ou estudado Tom e sua obra aparecem na tela para falar sobre ele - como o próprio dizia que a linguagem musical era suficiente, a frase inclusive aparece em destaque ao final do documentário. Uma ironia quando se sabe que Tom Jobim era além de tudo um grande letrista, que dominava as palavras como ninguém e contou a sua história e a de muitos por meio de suas composições. Após 90 minutos, no entanto, fica a dúvida: são as músicas de Tom Jobim que nos levam a um estado de graça e fruição ou é o filme de Nelson que é bom? São duas coisas bem distintas, mas ao colocá-las juntas (as músicas dentro de um filme) nasce a confusão. E essa parece ser a estratégia.
Exceto a abertura, com imagens documentais de extrema qualidade, mostrando um Rio de Janeiro dos anos 1950 absolutamente singelo e ainda em construção, e uma ou outra fotografia inserida ao longo do filme, todo o resto é tão somente uma colagem de clipes musicais. Ok, são lindos. E eles já seriam também separadamente. Mas estamos falando de um documentário. E a maior parte do público certamente gostaria de descobrir mais sobre Tom e suas músicas, como elas nasceram, em qual momento e sob qual circunstância histórica. "A Música Segundo Tom Jobim", enfim, é um ótimo filme para ser ouvido.
Nelson Pereira dos Santos merece todo respeito não só pela sua idade, um senhor de 83 anos, mas principalmente porque tornou-se um dos mais importantes cineastas brasileiros. São dele, apenas para citar alguns, "Rio 40 Graus" (1955), "Boca de Ouro" (1963), "O Amuleto de Ogum" (1974), "Memórias do Cárcere" (1984) e tantos outros, sem nos esquecermos de "Vidas Secas" (1963), adaptação do clássico da literatura escrito por Graciliano Ramos e que foi indicado à Palma de Ouro em Cannes. Como, então, criticar o trabalho de um diretor como Nelson? Pior, como discutir uma obra sua na qual o assunto são as criações musicais do mestre Antonio Carlos Jobim, no documentário "A Música Segundo Tom Jobim"? Sim, porque praticamente todo o mundo concorda que Tom foi um dos maiores gênios da música popular brasileira. Isso não há como discordar. A questão é que "A Música Segundo Tom Jobim" possui uma grande armadilha - ou então uma genial estratégia.
Primeiro, Nelson Pereira dos Santos garantiu sua importância na história do cinema, mas também cometeu equívocos - quem viu "Brasília 18%" (2006) entende o que estou dizendo. Depois, muita gente já escreveu que documentários não têm obrigação didática, o que não me parece exatamente pertinente. Se não for o documentário a nos fornecer informações com certo didatismo, qual outro gênero poderia se encarregar dessa função? National Geographic e Discovery Channel entendem bem disso.
Mas como "A Música Segundo Tom Jobim" trata de.... as músicas de Tom Jobim, aqui reside a armadilha. Não há como não se emocionar ao ouvir "Garota de Ipanema", "Se todos fossem iguais a você", "A felicidade", "Insensatez", "Eu sei que vou te amar", "Chega de saudade", "Samba de uma nota só", "Desafinado", "Água de Março" e mais uma dezena de pérolas compostas por Tom. Ocorre que ouvir essas indiscutíveis obras-primas é uma coisa. O que Nelson Pereira dos Santos e sua codiretora Dora Jobim fizeram foi reunir imagens/clipes dessas canções não somente com corpo e voz de Tom, mas também na interpretação de outros artistas - Frank Sinatra, Errol Garner, Oscar Petterson, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughn, Elis Regina, Henri Salvador, Fernanda Takai, Sammy Davis Jr., Judy Garland, Birgit Brüel, Lisa Ono e muitos outros. A ideia, claro, é mostrar o poder de influência e penetração das composições de Tom Jobim em outras partes do mundo, em diversos idiomas. Tudo muito bacana, mas nada diferente do que programas já conhecidos de uma MTV ou VH1 já fizeram. Ou, mais contemporâneo ainda, o que é facilmente possível encontrar no YouTube, quando uma busca por Michel Teló nos apresenta vídeos com as várias e inacreditáveis versões de "Ai, se eu te pego" em português, inglês, alemão e até polonês.
Em "A Música Segundo Tom Jobim" só há música. E como é um documentário sobre música, e não sobre Tom Jobim, não há depoimentos. Ninguém que tenha conhecido, convivido ou estudado Tom e sua obra aparecem na tela para falar sobre ele - como o próprio dizia que a linguagem musical era suficiente, a frase inclusive aparece em destaque ao final do documentário. Uma ironia quando se sabe que Tom Jobim era além de tudo um grande letrista, que dominava as palavras como ninguém e contou a sua história e a de muitos por meio de suas composições. Após 90 minutos, no entanto, fica a dúvida: são as músicas de Tom Jobim que nos levam a um estado de graça e fruição ou é o filme de Nelson que é bom? São duas coisas bem distintas, mas ao colocá-las juntas (as músicas dentro de um filme) nasce a confusão. E essa parece ser a estratégia.
Exceto a abertura, com imagens documentais de extrema qualidade, mostrando um Rio de Janeiro dos anos 1950 absolutamente singelo e ainda em construção, e uma ou outra fotografia inserida ao longo do filme, todo o resto é tão somente uma colagem de clipes musicais. Ok, são lindos. E eles já seriam também separadamente. Mas estamos falando de um documentário. E a maior parte do público certamente gostaria de descobrir mais sobre Tom e suas músicas, como elas nasceram, em qual momento e sob qual circunstância histórica. "A Música Segundo Tom Jobim", enfim, é um ótimo filme para ser ouvido.
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Cinema