sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Sequestro
04:14 | Postado por
São Paulo |
Editar postagem
Todo e qualquer tipo de crime causa indignação, mas certamente o mais cruel e sórdido, cujo nome por si só já nos dá um frio na espinha, é o sequestro. E é com esse substantivo assustador que o diretor Wolney Atalla dá título ao seu novo filme. "Sequestro" é, sem sombra de dúvida, um impactante thriller-policial-dramático. Um detalhe importante: estamos falando de um documentário. Seria tão natural esperarmos verdade num documentário, quanto aguardar mais uma história enfadonha, por exemplo, de um Julio Bressane. Mas Wolney Atalla, a mente brilhante por trás de "Sequestro", vai além e mostra uma verdade que perfura a alma.
Durante quatro anos Atalla acompanhou o DAS, a Divisão Antisequestro da Polícia, registrando imagens ao mesmo tempo chocantes e comoventes. Mesmo diante do risco de vida iminente, a equipe de Atalla acompanha a poucos metros de distância a ação dos policiais e investigadores - muito provavelmente os mais instruídos e mais bem treinados do que qualquer outra divisão policial do país. Logo no início, de forma didática e com infográficos elaborados e muito criativos, o filme revela uma série de informações estatísticas que nos dá a real dimensão do terror. De acordo com o que o filme nos informa, durante todo o período da produção o estado de São Paulo registrou 386 sequestros e mais de 1500 desses crimes em todo o Brasil.
Atalla também nos fornece, de forma bastante sucinta, um pouco da gênese deste delito: a partir do desmoronamento financeiro soviético nos idos de 1970, a Cuba de Fidel Castro passa a difundir seu maior expertise, e no caso o treinamento de guerrilha que viria a formar os primeiros sequestradores profissionais a agir pela causa revolucionária. Não é, absolutamente, um exercício de ideologia delirante como algum crítico ignoto sustentou. Tanto que Atalla coloca diante de sua câmera alguns dos sequestradores do empresário Abilio Diniz, no que eles prontamente confirmam que suas ações tinham um objetivo ideológico. Evidente que todos, hoje, se arrependem. Ainda que não façam qualquer esforço para diminuir sua culpa, eles também declaram que o crime que se comete atualmente, usando-se a mesma definição de "sequesto", é na verdade uma violação monstruosa sem precedentes.
E são alguns desses casos atuais que "Sequestro" acompanhou, mostrando dia a dia o empenho tático dos policiais e o sofrimento angustiante dos familiares das vítimas à espera de um telefonema. São pessoas reais, transpirando sentimentos os mais verdadeiros diante de uma situação de completa impotência. É claro que a câmera de Atalla vai em busca dessas reações. Não dá para enxergar sensacionalismo na imagem de uma esposa em lágrimas e cujo marido com mais de 60 anos de idade está nas mãos de bandidos sórdidos; é impossível pensar que há intenção de exploração da imagem quando uma jovem sequestrada por meses revela ter sido estuprada; e é de uma insensatez fascística não se comover quando policiais, finalmente, estouram o cativeiro aonde se encontra uma garotinha de apenas seis anos de idade, presa e indefesa num quarto escuro. Aliás, tão comovente quanto a libertação da criança é também descobrirmos que o policial que liberta a menina simplesmente desmorona em emoção, o que confirma o caráter de humanização daqueles homens. Ninguém está ali para ser herói; mas, se eles são erigidos a esta condição diante do valor de seus feitos, logo ficamos sabendo que os heróis também choram.
Marcadores:
Cinema