sexta-feira, 14 de outubro de 2011

PostHeaderIcon Saudade dos cinemas de rua na cidade São Paulo

Ontem (dia 13), no meu quadro na rádio CBN - Sessão de Cinema -, falei a respeito da "Coleção: Romances para Reviver", uma ideia lançada pela Universal Pictures feita especialmente para colecionadores. A coleção de DVDs conta com oito obras importantes do gênero dramático, todos sucessos de crítica e público que agora são relançados com novas capas padronizadas e especialmente desenhadas para o público feminino. Entre os DVDs da nova coleção estão os vencedores do Oscar "Shakespeare Apaixonado" (1998), "Elizabeth" (1998), "Entre Dois Amores" (1985), "Um Sonho Distante" (1992) e "Elizabeth - a Era do Ouro" (2007), além dos indicados à estatueta "Orgulho e Preconceito" (2005), "Retrato de Uma Mulher" (1996) e "Desejo e Reparação" (2007). Gosto de todos os títulos dessa lista, mas um deles me faz recordar um episódio muito especial: "Um Sonho Distante".

Volto a 1992, quando São Paulo infelizmente começava a perder suas magistrais salas de cinema de rua. Desde sempre os cinemas do centro da cidade sempre me encantaram por sua grandiosidade - alguns podiam receber mais de mil pessoas. Na tradicional avenidade São João havia dois cinemas que frequentei por muitos anos: o Cine Espacial e o Comodoro. O primeiro foi uma invenção um tanto maluca: dentro da mesma sala existiam três telas que exibiam o mesmo filme simultaneamente. A sala era algo triangular, e as telas eram colocadas cada uma numa das pontas do triângulo. Na plateia, três grupos de poltronas ficavam dispostas à frente de cada uma das telas. Hoje é fácil dizer que aquilo era simplesmente horrível, uma vez que não conseguíamos prestar atenção em uma única tela. Fosse por mera curiosidade ou interferência mesmo, a gente sempre virava o pescoço para ver se todas as telas realmente estavam exibindo a mesma cena. Vale destacar que, ao final de quase duas horas de projeção, saíamos do cinema com o pescoço doendo de tanto virar pra lá e pra cá.

Já o cine Comodoro, que ficava do outro lado da rua, era deslumbrante. Um cinema enorme, com uma tela gigante. Quem é daquele tempo deve se lembrar que existia na frente do cinema uma placa com os dizeres: "Cinerama 70 milímetros". Muita gente nem sabia o que aquilo significa (nem eu, óbvio), mas como o destaque era grande tudo leva a crer que a coisa era boa. Abro um aposto para explicar: 70mm era a bitola do filme, ou o formato do fotograma. Lembram daquelas máquinas fotográficas que tínhamos de levar o filme para revelar? E que quando pegávamos as fotografias vinham juntos os negativos (uma película com os perfuradinhos do lado)? Pois é, o filme de cinema (quando película, claro) é igualzinho. Hoje já não se produzem mais filmes com a bitola de 70mm, apenas a de 35mm.


Mas naquela época o Comodoro era talvez o único na cidade que passava os filmes em 70mm, o que ocupava toda a dimensão da tela de forma magnífica. E lá em 1992, o último filme que me lembro ter sido feito em Hollywood com a tal bitola foi "Um Sonho Distante" e exibido justamente no Comodoro. A história começava na Irlanda, em 1893, quando dois jovens têm o destino marcado. Apesar de suas diferenças sociais (ele um pobretão, ela uma donzela rica), em comum há o sonho da liberdade. A coincidência os leva a fugirem para a América, onde vão tentar conquistar terras e ouro. O casal com destino marcado não poderia ser outro senão Tom Cruise e Nicole Kidman, então o mais jovem casal de Hollywood. Eles haviam se casado apenas dois anos antes, quando fizeram juntos "Dias de Trovão", um filme de ação no qual Cruise é um piloto de stock car de grande talento que deseja desbancar o campeão da categoria. Mas durante um treino ele sofre um acidente grave, quando irá se apaixonar por sua médica, Nicole Kidman.


Mas o que interessa mesmo é "Um Sonho Distante" e na tela do Comodoro. Uma história épica, com cenas de carruagens em disparada pelos desertos americanos, a música triunfal do mestre John Williams, as jovens belezas de Cruise e Kidman. Tudo regido pela direção de Ron Howard, que mais tarde ganharia um Oscar por "Uma Mente Brilhante" (2001) e teria mais uma indicação da Academia por "Frost/Nixon" (2008).

Hoje em dia não temos mais filmes de 70 mm e muito menos as salas de rua. Não sejamos injustos, de qualquer forma, porque os cinemas atualmente podem não ser tão grandes, mas indiscutivelmente são mais confortáveis, mais limpos, não cheiram a mofo e a qualidade de som e imagem é infinitamente superior. Mas ter me lembrado do Comodoro dá saudade, sim.