sexta-feira, 7 de outubro de 2011

PostHeaderIcon "Meu País" mergulha nas relações de afeto familiares

"Meu País" marca a estreia do diretor André Ristum em longa-metragem.
E se o jovem diretor não nos conta aqui sua própria história, há de se esclarecer que a trama traz nas entrelinhas muito de sua experiência de vida. Ristum é filho de brasileiros mas nasceu em Roma e passou a infância em Londres. Entre idas e vindas ao Brasil, decidiu retornar definitivamente - morou no interior de São Paulo, na bela Ribeirão Preto, e hoje reside na capital. O cineasta conhece, portanto, a real sensação daqueles que voltam ao país e buscam no fundo da alma não só as boa lembranças, mas tudo aquilo que justifica a permanência na terra que se escolhe. Ristum já havia tratado dessa busca pelas lembranças - em boa medida - quando dirigiu o curta "De Glauber para Jirges", no qual contava a relação por meio de cartas entre o cineasta Glauber Rocha e seu amigo e colaborador Jirges Ristum, que nos anos de 1970 foi morar na Itália (quando nasceu o filho André).




Neste seu novo filme, André Ristum conta a história de Marcos (uma atuação intensa e segura de Rodrigo Santoro, premiado como melhor ator no último Festival de Brasília), que há anos foi viver na Itália, casou-se e tornou-se um grande empresário cuidando nos negócios do sogro. Impossível imaginar que alguém nessas condições pudesse querer algum dia voltar ao Brasil. Isso só acontece porque Marcos tem um motivo muito forte. No caso, a notícia da morte do pai (numa participação sempre envolvente de Paulo José). Marcos chega a São Paulo e logo descobre que terá muitos problemas para resolver.
Primeiro se dá conta de que os negócios do pai estão na corda bamba.
Em seguida percebe que o irmão, Tiago (Cauã Reymond, cada vez melhor), não passa de um rapaz egoísta que quer curtir a vida gastando o dinheiro da família, especialmente com mulheres e apostas. O problema maior, no entanto, vem com a descoberta de uma meia-irmã (Débora
Falabella) com deficiência mental e de quem os irmãos jamais tinham ouvido falar. Mas é justamente essa revelação que vai alterar os rumos dos acontecimentos e principalmente a maneira com que os irmãos passarão a se relacionar. Ao mesmo tempo em que têm de lidar com o luto, Marcos e Tiago precisam aprender a conviver com suas diferenças e a se acostumar com a nova irmã.

Estamos diante de um drama familiar absolutamente denso, que não fosse pela sensibilidade nata de Ristum o filme poderia facilmente pender para um dramalhão dos mais piegas. Mas o diretor lançou mão de suas melhores influências cinematográficas, em especial do cineasta Nanni Moretti, consagrado diretor italiano de filmes como "O Quarto do Filho", e de quem Ristum é fã confesso. Tanto a construção da história quanto o desenvolvimento de cada personagem se dão de maneira sutil, sem que nenhum arco dramático e seus protagonistas colidam um com o outro.



Uma jornalista e crítica de cinema, que aqui não convém citar o nome, escreveu que "Meu País" nasceu com o título errado, pois não vemos o Brasil no filme. Durante uma coletiva no Festival de Brasíia, entre a equipe de produção e a imprensa, essa mesma jornalista já havia feito comentário parecido acrescendo que não há negros no filme. Esse é provavelmente o maior exemplo do quanto pode ser inconveniente e estúpida essa onda do politicamente correto quando o assunto é etnia.
André Ristum é branco e certamente ele não tem nenhuma culpa por isso.
Assim como ele não pode ser acusado de nada porque teve condições de ser educado na Europa e convivido num ambiente em que talvez não existissem negros. Faria algum sentido que o diretor inserisse na história, apenas em nome do politicamente correto, um personagem negro totalmente fora do contexto? Tenho absoluta certeza que não.

A tal jornalista ainda afirmou que o que incomoda no filme é sua assepsia, uma vez que tudo é "muito limpo, muito clean". E poderia ser diferente, oras? Ristum centra sua trama numa família de classe média alta, senão realmente rica, que vive numa bela e bem cuidada mansão.
Mas fora esse detalhe narrativo-descritivo, há de se levar em conta a opção estética do diretor, que explorou com total beleza uma fotografia que não tem medo de ousar nos estouros da cor branca, em determinados momentos, para em outros simplesmente deixar as cores lavadas.



Mas ainda sobre o acerto ou não do título "Meu País", concordo plenamente com o diretor André Ristum quando ele argumenta que existe aqui algo de metafórico em sua busca pelo "país interior" de cada um.
Faz todo sentido quando percebemos que seu filme trata especificamente de afetos. Enfim, "Meu País" é um ótimo trabalho de estreia de André Ristum. Um filme brasileiro que não apresenta qualquer constrangimento pelo fato de buscar referências no melhor do cinema europeu.

O filme estreia nesta sexta (7) nos cinemas de todo o Brasil.


Meu País
(Meu País, Brasil, 2011)

Gênero: Drama
Duração: 90 min.
Tipo: Longa-metragem / Colorido
Distribuidora(s): Imovision
Produtora(s): Gullane Filmes, SOMBUMBO Filmes

Diretor: Andre Ristum
Roteiristas: Marco Dutra, Andre Ristum, Octavio Scopelliti
Elenco: Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Anita Caprioli, Débora Falabella, Paulo José