sexta-feira, 23 de setembro de 2011

PostHeaderIcon "Tropa de Elite 2", de José Padilha, é a melhor chance do Brasil no Oscar em toda a história

Caros amigos e leitores do "São Paulo de Cristal", no post da semana passada eu me esqueci de mencionar uma coisa importante: é que aqui no blog não iremos tratar apenas das estreias no cinema. Iremos aproveitar esse espaço para também falar de algum fato ou acontecimento de relevância no mundo cinematográfico.

E nessa semana tivemos um que não poderia passar em branco. Trata-se evidentemente de "Tropa de Elite 2", a produção que irá representar o Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar 2012 na categoria de melhor filme estrangeiro. A escolha foi anunciada na última terça-feira, dia 20, pelo Ministério da Cultura. O MinC criou uma comissão que avaliou 15 títulos inscritos, entre eles "Bruna Surfistinha", "Assalto ao Banco Central", "As Mães de Chico Xavier", "Malu de Bicicleta" e "VIPs".
Tirando "Malu de Bicicleta", um deliciso trabalho de Flávio Ramos Tambellini a partir do livro de Marcelo Rubens Paiva, posso garantir que nenhum, além dos que já citei, merece aparecer aqui.






A comissão foi formada pela secretária do audiovisual do Ministério da Cultura, Ana Paula Dourado Santana; o presidente da Associação Brasileira de Cinematografia, Carlos Eduardo Carvalho Pacheco; o ministro do Departamento Cultural do Itamaraty, George Torquato Firmeza; e os representantes da Academia Brasileira de Cinema, Jorge Humberto de Freitas Peregrino, Nelson Hoineff, Roberto Farias e Silvia Maria Sachs Rabello.

É óbvio que eu (e muita gente, aliás) estou feliz pela escolha de "Tropa de Elite 2". Mas esta é apenas a primeira de algumas etapas estabelecidas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela premiação do Oscar. Neste momento, cada país interessado em participar da disputa deve primeiro escolher seu representante e enviá-lo à Academia - como agora feito pelo Brasil.
Depois disso, uma comissão especial para a categoria de filme estrangeiro irá analisar todos os inscritos (em pelo menos duas fases), quando só então os finalistas serão conhecidos.




Sim, temos chance

Em 2010, "Lula, O Filho do Brasil" foi o filme escolhido para representar o país na disputa de uma vaga, mas fracassou e a Academia o deixou de fora. Foi uma escolha brasileira totalmente equivocada. A comissão do MinC, à época, considerou que somente a então popularidade do ex-Presidente Lula fosse capaz de convencer os chamados "velhinhos"
de Hollywood que o filme tinha potencial para conquistar uma vaga.
Primeiro, nos Estados Unidos em geral e na Academia em particular, Lula era um completo desconhecido. É verdade que o personagem de um homem humilde e analfabeto como Luiz Inácio da Silva, que enfrentou uma vida miserável para chegar ao posto político mais alto do país é daquelas histórias de superação que tudo tem a ver com o cinema e sobretudo com o Oscar. Mas o filme, descontando um ou outro momento mais inspirador (mesmo com sua ideologia de esquerda, abominada pelos americanos), deixou muito a desejar. Além disso, havia o fato de que "Lula, O Filho do Brasil" foi um fiasco retumbante em solo brasileiro, mesmo quando Lula ostentava aprovação de aproximadamente 90% da população.

Já "Tropa 2" é um caso completamente oposto. Em relação ao seu desempenho comercial, o filme dirigido por José Padilha conquistou o status de maior fenômeno do país. Lançado em 2010, o filme atraiu mais
11 milhões de espectadores e sua arrecadação ultrapassou a marca de R$ 100 milhões nas bilheterias - superando inclusive os resultados da megaprodução "Avatar", assinado por James Cameron. Chamou atenção, igualmente, a distribuição de "Tropa de Elite 2" realizada de forma independente pela distribuidora Zazen, com parceria e coordenação de Marco Aurélio Marcondes e coprodução da Globo Filmes. Com investimento pesado em cópias e marketing não apenas eficiente mas digno dos maiores blockbusters americano, o modelo entrou no mercado para servir de exemplo para aqueles que sonham algum dia ver uma indústria cinematográfica de fato estabelecida no Brasil.



Quanto ao tema tratado no filme e sua capacidade de ser compreendido pelos membros da comissão da Academia podemos afirmar que "Tropa de Elite 2" também possui forte potencial. Continuação de "Tropa de Elite", a trama se passa quinze anos depois do que vimos no primeiro filme e mostra a expansão do Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio (Bope), com a formação de milícias no Rio de Janeiro. O Capitão Nascimento, personagem célebre de Wagner Moura, agora já aos 40 anos de idade, trabalha na Secretaria de Segurança Pública do Rio e irá travar uma violenta batalha contra o próprio sistema. Em resumo, o filme faz um instigante retrato de um país desmoralizado pela ineficiência e corrupção nos altos escalões da segurança pública, apresenta uma discussão político-social crua, elenco profissionalíssimo, produção requintada e tudo sob a batuta de um dos melhores diretores brasileiros da atualidade. Ou seja, temos sim todas as chances.

Mas por enquanto é só o começo. Agora com a indicação pelo Brasil, "Tropa de Elite 2" terá de iniciar uma longa jornada para chegar à festa de premiação. Até lá, precisa antes ser apresentando ao mercado americano, o que já está sendo programado. A distribuidora americana New Video, junto à IM Global, já tem os direitos de exibição de "Tropa de Elite 2" na América do Norte. O filme tem estreia prevista para 11 outubro nos EUA e no Canadá.

A cerimônia de premiação do Oscar está marcada para o dia 26 de fevereiro de 2012, no Kodak Theatre, em Los Angeles.