sexta-feira, 30 de setembro de 2011

PostHeaderIcon Festival de Cinema de Brasília

Escrevo o post dessa semana direto do Distrito Federal, de onde acompanho a 44a. edição do Festival de Cinema de Brasília. Lembrei-me agora de um curta-metragem que vi por aqui dois anos atrás, chamado "BraXília" - assim mesmo, com X. Ah, alguém nesse instante pode estar se perguntando qual o motivo de um texto sobre Brasília, quando o objetivo desse blog é falar sobre São Paulo. Calma que eu chego lá. O curta "BraXília", primeiro trabalho de direção da jovem jornalista brasiliense Danyella Proença, fala sobre a poética de Nicolas Behr e sua íntima e particular visão sobre a Capital Federal. O poeta Nicolas Behr é na verdade goiano e veio morar em Brasília quando adolescente.
Na faculdade começou a exercitar a arte da escrita e lançou alguns cadernos de poesias cujos textos apresentavam seu olhar pela cidade.
Só por curiosidade, e sabendo que poucos terão a chance de ver esse belo curta, a expressão "BraXília" surgiu por acaso. Behr, ainda quando se usava máquina de datilografar, iria escrever "Brasilia" e por algum motivo errou a letra "S". Para quem é do tempo das máquinas Olivetti (e só citei essa marca porque tinha uma delas) sabe muito bem que era comum, ao cometermos algum erro, colocarmos um "X" em cima do tal erro. Nicolas Behr então se deparou com novo nome, um neologismo.
Mas ele acabava de criar também uma nova cidade. A cidade a partir daquele seu olhar tão diferenciado. Assim surgiu BraXília.



Mas, seja Brasília ou BraXília, o fato é que a capital do Brasil é um pedaço do Brasil com vários Brasis. Aqui era um deserto no meio do serrado. Centenas de milhares de pessoas de todos os cantos vieram para cá numa grande aventura, mas também com o sonho de criar um lugar onde se pudesse viver. Assim como o goiano Nicolas Behr, Brasília recebeu gente do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, várias cidades do norte e nordeste, e claro também de São Paulo.

Nesta semana que estou por aqui em função do Festival de Cinema tenho essa sensação de estar num lugar perfeitamente disposto e completamente aberto a receber todo mundo e de todos os lugares. Além dos jornalistas de todos os cantos do país, há evidentemente os filmes e suas respectivas equipes de diferentes sotaques. Há uma vasta programação de filmes em competição, cada um tentando traduzir em imagens um pouco de cada estado, de cada cultura local.

"As Hiper Mulheres", de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, é um documentário produzido por equipes do Rio e de Pernambuco. Mas a história, ambientada no Alto Xingu, no Mato Grosso, começa com um velho índio que, temendo a morte da esposa idosa, pede que seu sobrinho realize o Jamurikumalu, o maior ritual feminino, para que ela possa cantar mais uma última vez. As mulheres do grupo começam os ensaios enquanto a única cantora que de fato sabe todas as músicas se encontra gravemente doente. Toda a parte da preparação desse ritual é bastante interessante, coreografada, mas o instigante mesmo é quando as índias começam a se soltar e revelar qual o sentido de tudo aquilo.
Trata-se de um ritual sexual, que de forma lírica e bela, além de divertida, mostra o desejo das mulheres.

"Hoje", assinado pela diretora paulistana Tata Amaral, conta uma história que poderia acontecer em qualquer lugar, mas ela faz questão de situar a trama bem no centro de São Paulo. A personagem vivida por Denise Fraga, em dado momento, dá o endereço. Estamos num prédio na avenida São Luiz, bem em frente à Praça Dom José Gaspar. A trama:
Vera, uma ex-militante política, recebe indenização do governo brasileiro pelo desaparecimento do marido, Luiz, vítima da repressão desencadeada pela ditadura militar brasileira (1964-1985). Com a indenização, Vera pode comprar o tão sonhado apartamento próprio e libertar-se desta condição de "suspensão" em que viveu durante décadas. No dia de sua mudança para o novo apartamento, o marido reaparece. Em tempo: o marido é interpretado por César Troncoso, um dos maiores atores do Uruguai (é ele quem fez o magnífico "O Banheiro do Papa").



O cineasta André Ristum, cujo filme "Meu País" representa o estado de São Paulo, é um caso curioso. Ristum nasceu em Londres, na Inglaterra, passou parte da infância na Itália, e no Brasil viveu no interior de São Paulo, em Ribeirão Preto. "Meu País", para todos os efeitos, conta a história de Marcos (Rodrigo Santoro), rapaz que vive na Itália, mas ao receber a notícia da morte de seu pai (Paulo José) precisa voltar ao Brasil e reencontra o irmão Tiago (Cauã Reymond). Descobre então que tem uma meia irmã (Débora Falabella) portadora de deficiência intelectual. Ao mesmo tempo em que têm de lidar com o luto, Marcos e Tiago precisam aprender a conviver com suas diferenças e a se acostumar com a nova irmã. Mas isso para todos os efeitos.... nas entrelinhas, é um filme que discute aa importânncia da família e o sentimento que se tem quando questionamos a que lugar pertencemos.


O Festival de Cinema de Brasília ainda exibe "O Homem que Não Dormia", do baiano Edgard Navarro; "Vou Rifar Meu Coração", da carioca Ana Rieper; e "Trabalhar Cansa", dos paulistanos Juliana Rojas e Marco Dutra. Como disse antes, temos aqui vários sotaques. O que chama atenção é que todos estamos em Brasília, que só existe hoje justamente por causa dessas diferenças encontradas nesse enorme Brasil. E achei que esse post em nosso blog faria algum sentido porque temos aqui um pedaço da nossa querida São Paulo.