quinta-feira, 20 de junho de 2013
O dia em que meu chapéu me acordou!
10:50 | Postado por
São Paulo |
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Bombas, tiros, sirenes, gritos nas ruas. Meu Chapéu foi acordado de sua longa hibernação invernal em uma quinta feira, com uma ensurdecedora barulheira que terminou em grossa pancadaria na Av. Paulista e repercutiu mundo afora.
Mas que gritaria é esta, meu Deus? Algum levante? Uma revolução? Uma perseguição policial? Expliquei ao Meu assustado Chapéu que se tratava de um pouco de tudo, e tentei acalmá-lo, dizendo que era apenas uma reivindicação popular contra o aumento das tarifas do transporte público. Coisa pequena, questão de centavos.
Enquanto descrevia a situação, Meu Chapéu via as cenas das manifestações da quinta feira negra na TV, e não parava de perguntar: mas porque aqueles policiais estão avançando sobre o povo? -”Eles estão xingando a mãe deles?” Disse que não, que provávelmente estavam cumprindo ordens superiores. -”Mas quem seriam estes superiores?” Quis saber ele. Disse que eram dirigentes políticos. -”Políticos? Mas não foram eleitos por este mesmo povo?” Sim, sim… Meu Chapéu sempre com suas perguntas óbvias.
Segunda feira. Uma multidão descia em direção ao Largo da Batata para uma nova manifestação. Muita gente amedrontada nos escritórios e nas casa, dentro dos seus carros, lembrando as cenas violentas da semana anterior. Apesar disto, a avenida parecia um rio que estivesse se formando, e engrossando com os afluentes despejando gente e mais gente de cada travessa.
-“Quero ir também, disse Meu Chapéu.” Mas é perigoso, argumentei. Tem vândalos infiltrados, a polícia pode cometer abusos, risco de gás lacrimogêneo, spray de pimenta. Melhor assistir da TV. Tem helicópteros cobrindo, a gente fica aqui tranquilos, esperando a coisa acabar.
Meu Chapéu foi inflexível: -”Quero ir para a rua. Ou me leva, ou me coloca em outra cabeça.” Diante do ultimato, não tive escolha. Chapéu na cabeça, lá fui eu com um grupo de amigos acompanhar a manifestação. Nos primeiros momentos, apreensão e expectativa de um ataque iminente de bombas apimentadas e cassetetes. Mas era tanta gente que se juntava, que a cada minuto aumentava a percepção de segurança entre a multidão pacífica, formada de gente comum, mães, filhos, jovens, donas de casa, funcionários, estudantes. Gente como a gente. Meu Chapéu, curiosíssimo, registrava cada movimento, cada cartaz, cada grito de ordem. Polícia não se via em lugar nenhum. E o povo não parava de cantar: “Coincidência, não tem polícia, não tem violência!!!”
Os 8 km entre o Largo da Batata e a Ponte Estaiada transcorreram sem nenhum incidente, com pessoas que se entreolhavam, impressionadas com a força que de repente acabavam de perceber que tinham. O Brasil acabava de se descobrir, em plena avenida. E não era Copa do Mundo.
Mesmo do alto da minha cabeça, Meu Chapéu não conseguia enxergar nem o começo ou o fim da manifestação. Um mar de gente. Não dava pra ver onde a rua encontrava a calçada. Depois de quase 5 horas de caminhada, exaustos mas contentes, fomos tomados pela sensação de viver uma experiência democrática única, com direito a gritar a plenos pulmões contra todos os usos e abusos dos nossos corruptos políticos, da nossa facciosa imprensa, sem medo de nada, anestesiados pelo poder que a multidão nos conferia.
Voltando de trem para casa, junto com todos os que estavam na manifestação, ouvi Meu Chapéu sussurrar: -“Foi bom pra você?” Sorri de canto de boca, e pensei que não fôra Meu Chapéu, a experiência de ter participado desta caminhada histórica teria se reduzido apenas a assistir a manifestação narrada por um repórter de um telejornal qualquer, afundado no meu sofá. Obrigado, Meu Chapéu, por me tirar da zona de conforto e me fazer testemunhar um novo Brasil nascendo.








![Manifestação chap]eu 1](http://www.euemeuchapeu.com.br/wp-content/uploads/2013/06/Manifesta%C3%A7%C3%A3o-chapeu-1-600x449.jpg)



