sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

PostHeaderIcon "O Artista" chega aos cinemas e leva espectador ao mundo do cinema mudo


Em 1952, Stanley Donen e Gene Kelly realizaram o clássico "Cantando na Chuva". A história apresenta uma Hollywood em transformação, quando um estúdio decide fazer sua primeira produção sonora estrelada por Don Lockwood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen), então o casal celebridade do cinema mudo. A ideia é um musical. O problema é que além de não saber cantar, Lina Lamont tem uma voz horrível. Surge a estreante Kathy Selden (Debbie Reynolds), por quem Lockwood se apaixona imediatamente. Entre brigas e discussões, a jovem Selden leva a melhor. Com a trama passada em 1927 - ano do lançamento de "O Cantor de Jazz", o primeiro filme falado da história -, "Cantando na Chuva" faz uma sátira com a própria Hollywood e é considerado um dos maiores musicais de todos os tempos. Já agora em 2011 o francês Michel Hazanavicius fez "O Artista", que chega às telas brasileiras depois de ter caído nas graças do público, da crítica e da Academia - são 10 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, roteiro, direção e ator.

"O Artista" conta a história de George Valentin (Jean Dujardin), astro do cinema mudo que entra em depressão, mergulha no alcoolismo diante da ascensão dos filmes sonoros e vê sua carreira chafurdar, bem como sua própria existência. No entanto, encorajado por Peppy Miller (Bérénice Bejo), uma jovem dançarina e aspirante a atriz que começa a fazer sucesso e torna-se musa na nova indústria falada, o ator decide voltar a atuar, mas agora como dançarino. "Cantando na Chuva" e "O Artista" se desenvolvem sob o mesmo pano de fundo, o da revolução do som no início dos anos 1930 e que modificou para sempre a indústria hollywoodiana e posteriormente do cinema mundial. Mas enquanto o filme de Stanley Donen e Gene Kelly era de um belo colorido, com muita música e muitos (e afiados) diálogos, Michel Hazanavicius foi mais audacioso ao recriar a estética do cinema mudo. Aliás, o filme é mudo e em preto-e-branco. São detalhes que possivelmente irão afastar parte do público, mas quem se arriscar definitivamente não vai se arrepender.







"O Artista" é sem dúvida um filme belo, comovente e grande homenagem ao cinema. É uma oportunidade e tanto para mergulhar naquela longínqua era dos filmes silenciosos, quando o que mais importava, do ponto de vista dramatúrgico, era uma composição física dos atores. Na verdade, por causa da tecnologia existente - ou inexistente, no caso - naquelas primeiras décadas dos anos 1900 os filmes mudos eram o que a indústria se permitia fazer e, portanto, a única alternativa para público. Mas o público queria mais. Queria rostos novos e bocas que falassem. E se o público pedia por isso, ele estava certo, como bem lembra o produtor de cinema vivido por John Goodman. Ocorre que George Valentin, na posição de astro absoluto, carrega também uma alta dose de arrogância e principalmente orgulho. Não é à toa que sua primeira reação à notícia de um filme sonoro é rir diante de todos. É logo após essa cena que "O Artista" mostra uma sequência que traduz todo o drama pelo qual o personagem de Valentin irá enfrentar. Num pesadelo, ele ouve todos os sons (o copo na mesa, o telefone, buzinas, gargalhadas, o vento), mas somente ele não tem voz. Ele não fala e não quer falar.

É a partir desse verbo que se desenvolve toda a história do filme, criando a partir dele inúmeros substantivos e adjetivos que compõem a vida de um ator que conheceu a glória e enfrenta a desventura. Combinando momentos de profunda graça e emoção, "O Artista" é daqueles filmes que nos dão imenso prazer de assistir, além da grata sensação de que valeu pagar pelo ingresso.