quarta-feira, 29 de junho de 2011

PostHeaderIcon Testemunha de São Paulo

O que ainda não foi dito sobre São Paulo, me pergunto? Se suas belezas não são tão evidentes, suas feiúras já foram consagrada em letra e música, não por um paulistano, mas por um baiano que soube ver, no cruzamento da Ipiranga com a São João, o Corcovado desta megalópole. Caetano entendeu tão perfeitamente São Paulo como nenhum paulistano conseguiria, porque, além do coração de poeta, tem o olhar do estrangeiro. Que vê tudo com o frescor da primeira vez.



Ouço muitos estrangeiros que circulam por São Paulo se dizerem maravilhados com paisagens para as quais viramos o rosto. Afinal, onde eles veem tanta beleza? Nos bairros nobres, nos palacetes, nos prédios tecnológicos da Berrini, na Ponte Estaiada, nos restaurantes e hotéis luxuosos? Não acredito. O que então fascina nesta terra que parece tratar mal seus filhos, com tanto trânsito, poluição, aperto, perigos e emboscadas?

Cada um terá suas próprias razões para amar esta cidade. Porque São Paulo pode ser tudo, menos previsível. Eu, que ainda me considero estrangeiro por aqui, apesar dos mais de vinte e cinco anos que me separam de Curitiba, tenho uma São Paulo que me encanta sempre. Coincidentemente, do mesmo ponto de vista que inspirou Jobim nos versos em que sua alma canta ao ver o Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara. Aterrissar em São Paulo sempre me tira o fôlego.



Rasgar as nuvens e de repente vislumbrar esta imensidão de prédios, ruas, casas, coisas e carros, em rota de aproximação, me dá a noção exata da minha pequenez. Gosto de observar a cara dos passageiros que vão nas janelinhas e ficam hipnotizados pela incrédula visão da cidade interminável. Onde o olhar alcança, tem São Paulo. E é esta escala monumental, como os grandes templos construídos para que nos sentíssemos insignificantes diante de Deus, que nos arrebata em São Paulo.



Quando desço as escadas rolantes para pegar as bagagens, ainda estou amortecido, me sentindo uma formiga carregando uma folhinha para casa. E aquela hora e meia de carro, serpenteando pelas marginais até chegar ao meu destino, posso fazê-lo em silêncio. Afinal, acabei de ter a visão privilegiada de um dos maiores espetáculos da Terra. Me tornei testemunha de São Paulo.

Texto e fotos: Lee Swain