sexta-feira, 22 de maio de 2015

PostHeaderIcon Depois de 20 anos, saem primeiras imagens do polêmico filme "Chatô, O Rei do Brasil", dirigido por Guilherme Fontes


Viajo pelo país, em diferentes ocasiões do ano, participando de inúmeros festivais de cinema brasileiro. Não é raro assistir a algum filme cujo diretor afirma ter levado quatro, cinco, às vezes dez anos para realizá-lo. Os motivos são os mais diversos, mas o principal é a dificuldade de conseguir captar o dinheiro necessário para a produção. Dinheiro esse que, invariavelmente, vem de empresas (públicas ou privadas) que se beneficiam das leis de incentivo à cultura. Produtores e/ou diretores levam tempo para levantar o orçamento, mas de alguma forma ele sai.

Como saiu para o ator, produtor e diretor Guilherme Fontes, que há 20 anos teve aprovado pela Ancine (Agência Nacional de Cinema) seu projeto de levar às telas a adaptação do livro "Chatô, O Rei do Brasil", escrito por Fernando Morais. O livro foi um enorme sucesso nas prateleiras de livrarias por todo o país. O filme, dizia-se, seria uma grande produção e divisor de águas na história do cinema brasileiro.

Há 20 anos esperamos por "Chatô, O Rei do Brasil". Nessas duas décadas, jamais o público conheceu uma única imagem do filme. Ao contrário, o que todos nós soubemos por meio da imprensa é que Guilherme Fontes estava envolvido até o pescoço em escândalos de desvio de dinheiro. Ou seja, os R$ 8,5 milhões aprovados para captação e que deveriam ser utilizados para o filme, simplesmente haviam desaparecidos. E o filme, nunca concluído.

Eis que 20 anos depois, quando o tal filme assinado por Guilherme Fontes já fazia parte da lista de lendas urbanas, surge o primeiro trailer do filme "Chatô, O Rei do Brasil". Em pouco menos de três minutos, vemos imagens grandiosas, bem ao estilo megalomaníaco de Fontes. Marco Ricca é quem interpreta o persoagem principal, Assis Chateaubriand, o fundador dos Diários Associados e um dos homens mais influentes e polêmicos do Brasil no século XX. Andréa Beltrão, Paulo Betti, Leandra Leal, Eliane Giardini, Gabriel Braga Nunes e Letícia Sabatella também estão no elenco, todos evidentemente 20 anos mais jovens.




Desde a década de 1990, quando "Chatô, O Rei do Brasil" teve início, a produção foi paralizada inúmeras vezes. De um lado, o diretor e produtor Guilherme Fontes afirmava que o dinheiro havia acabado e que era necessário captar ainda mais para concluir as filmagens. Do outro, a Justiça não demorou para começar a desconfiar e logo abriu um processo contra Fontes, alegando mau uso e desvio de recursos públicos. A investigação sobre o caso vem sendo feita pos todos esses anos. Uma ação civil chegou a ser movida pelo Ministério Público Federal, alegando que a empresa de Fontes recebeu cerca de R$ 51 milhões, em forma de isenção fiscal por patrocinadores, para a realização do filme. Para a Justiça, Fontes nunca concluiu a obra e tampouco prestou contas sobre o dinheiro. Já o ator sempre afirmou que a obra foi realizada e nega mau uso dos recursos.

Ao menos agora, com o lançamento deste primeiro trailer de "Chatô, O Rei do Brasil", Guilherme Fontes quer realmente provar que o filme está pronto. Até o momento, no entanto, não existe uma data certa para o lançamento comercial da obra. Aliás, não há nem mesmo um distribuidor garantido.

Escândalos à parte, fãs da literatura e do cinema querem mesmo é saber se "Chatô, O Rei do Brasil" virá à luz. A trama do filme traz um personagem, ainda que polêmico, de grande relevância na história do país. Assis Chateaubriand foi um jornalista e empresário que, nos anos de 1920, fundou os Diários Associados, grupo de mídia que constituiu jornais, emissoras de rádio e de TV. Chateaubriand, aliás, foi o responsável pela estreia da televisão ao Brasil, no dia 3 de abril de 1950, em uma transmissão aos aparelhos instalados no saguão do prédio dos Diários Associados. A polêmica em torno de Assis Chateaubriand está diretamente ligada ao seu grande poder - sobretudo financeiro -, quando nunca mediu esforços para suas conquistas. Chateaubriand era um homem grosseiro, rude, mulherengo e não raro violento. Chegou a puxar uma arma e ameaçar o Presidente da República. 

Surpreendentemente, o trailer agora disponível de "Chatô, O Rei do Brasil" mostra-se bastante eficiente. Ainda que não finalizado, apresenta muita qualidade e grandiosidade nos cenários, cuidado com os figurinos e objetos de cena (garantindo uma excelente reconstituição de época). Mas, trata-se de um trailer. Um mecanismo que, todos sabem, serve somente para atrair a atenção do público e, por isso mesmo, preocupa-se em exibir o que há de melhor na produção. "Chatô", o livro, está entre as grandes obras da literatura brasileira. Mas foi escrita por um especialista chamado Fernando Morais. Já o filme de Guilherme Fontes é outra história e que ainda não conhecemos. É esperar para ver.