sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

PostHeaderIcon Isto é Hollywood...


Em toda a sua existência, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood foi ao mesmo tempo combatida por muitos e adorada por outros. Mas o prêmio ainda é o maior exemplo de cobiça para aqueles que estão à frente e atrás das câmeras. Receber um Oscar significa a consagração suprema: reconhecimento na indústria, sucesso com o público e dinheiro, muito dinheiro. No entanto, a festa da premiação é um misto do glamour e do kitsh, das justiças e dos equívocos. Não raro, são as gafes e confusões que dão o tom de graça à cerimônia. E muitas das histórias registradas durante cada uma das edições do Oscar – que acontece no início de cada ano para premiar os melhores do ano anterior – fazem parte do folclore hollywoodiano. Para o deleite dos apreciadores do maior prêmio do cinema, aqui estão reunidos alguns dos mais curiosos acontecimentos. Um pouco de diversão e história, até que seja ouvida a célebre frase "And the Oscar goes to..."



O comediante Will Rogers era um dos mestres-de-cerimônia na festa de 1934, quando protagonizou duas das gafes mais memoráveis. Primeiro provocou constrangimento na hora de anunciar a atriz vencedora da noite, chamando May Robinson e Diana Wynyard simultaneamente. Na dúvida, nenhuma delas tomou a iniciativa de se levantar. Melhor assim, já que imediatamente Rogers se desculpou e disse que a vencedora de fato era Katharine Hepburn, por "Manhã de Glória".        

     

Ao final da festa, Rogers iria entregar o prêmio de melhor direção. Ele apenas bateu os olhos na ficha e em seguida disse olhando para o suposto vencedor: "Venha buscá-lo, Frank". Frank Capra, que concorria por "Dama por um Dia", pulou da sua cadeira e andou até o palco. No meio do caminho Rogers se corrigiu e anunciou que o vencedor era Frank Lloyd, por "Cavalgada". Em sua autobiografia, "The Name Above The Title", Capra descreveu aquele momento: "A mais longa, triste e difícil caminhada da minha vida."



Por mais improvável que possa parecer, a Academia registra pelo menos um caso histórico de roubo. O episódio, ocorrido em 1937, só ganha ares de comicidade por que se deu justamente durante a cerimônia e na frente de todo mundo. Alice Brady foi anunciada a vencedora na categoria de atriz coadjuvante, pelo filme "Na Velha Chicago". Brady não compareceu à festa e tampouco mandou um representante. Mas eis que um desconhecido se dirigiu ao palco, recebeu o prêmio, agradeceu e foi embora livre e desimpedido para nunca mais aparecer. A Academia só tomou alguma providência dez dias depois, enviando à atriz um novo Oscar.        

     

Um dos momentos mais admiráveis na edição do Oscar em 1939 foi o prêmio especial concedido pela Academia a Walt Disney, por sua inesquecível criação "Branca de Neve e os Sete Anões". O maior mestre da animação de todos os tempos foi recebido pela pequena Shirley Temple, que lhe entregou a tradicional estatueta e mais sete réplicas em miniatura representando os anões do desenho. Disney tentava conter a emoção ao ouvir a garota: "Não são bonitos e brilhantes, senhor Disney?" Ele respondeu: "Sim, estou tão orgulhoso que vou chorar". Shirley Temple, então com dez anos, pediu graciosamente: "Não faça isso!" Os convidados aplaudiram de pé.



O ano de 1939 também marcou fatos até então inéditos na História da Academia. Pela primeira vez uma atriz negra não só comparecia à cerimônia, como também ganhava um Oscar. Trata-se de Hattie MacDaniel, que levou o prêmio de melhor atriz coadjuvante por "...E o Vento Levou". Pelo mesmo filme, a estreante em Hollywood Vivien Leigh chegava à consagração quando anunciaram seu nome como a melhor atriz do ano. Leigh foi a primeira inglesa a receber um Oscar. Assediada à exaustão pela imprensa, a atriz não conseguiu sequer jantar durante o banquete oferecido após a premiação.



Muitos dizem que a vitória de James Stewart em 1941, por seu papel de um repórter no filme "Núpcias de Escândalo", era uma forma de a Academia compensar o ator pela injustiça no ano anterior, quando concorria por "A Mulher Faz o Homem". O fato é que algum tempo mais tarde constatou-se que a estatueta de Stewart havia desaparecido. E ele mesmo revelaria, anos depois, que seu Oscar estava guardado numa caixa de vidro na loja de ferragens do pai. Foi na cerimônia de 1941 que passaram a utilizar os envelopes lacrados, garantindo o sigilo dos resultados e o suspense na premiação. No ano anterior, o jornal Los Angeles Times havia publicado, horas antes, a lista completa dos vencedores.



Em 1943, o astro Humphrey Bogart era uma das apostas da noite, concorrendo por seu papel em "Casablanca". O ator acreditava tanto na sua vitória que parece ter ficado surdo. Mesmo tendo sido anunciado o nome do vencedor, Bogart levantou-se para receber o prêmio. Ao constatar que todos aplaudiam a chegada de Paul Lukas ao palco, que recebia o Oscar por "Horas de Tormenta", Boggie usou do seu charme e classe para disfarçar. Era o único a aplaudir o amigo de pé.

     

Barry Fitzgerald, o ganhador em 1945 como ator coadjuvante no filme "O Bom Pastor", teve pouco tempo para exibir seu prêmio. Conhecido adepto do golfe, o ator estava praticando dentro da sala da sua casa quando uma tacada mais forte acertou em cheio seu Oscar, arrancando a cabeça da estatueta. Era o segundo ano em que a Academia premiava os coadjuvantes com um Oscar. Até 1944, a categoria recebia apenas uma placa.
       


Em 1947, a vitoriosa Olivia de Havilland tirou fotografias ao lado de quase todo mundo exibindo o Oscar de atriz coadjuvante que ganhara por "Só Resta uma Lágrima". Quase! Joan Fontaine foi a única que se recusou veementemente a posar ao lado de Havilland, confirmando assim a antipatia entre as duas. O desentendimento entre elas já vinha de longa data, quando em 1942 Fontaine conquistou o Oscar de melhor atriz em "Suspeita", vencendo a rival Olivia, indicada por "Porta de Ouro". Na ocasião , Havilland é quem virou a cara. Detalhe: elas são irmãs.        

     

Ronald Colman mal acabara de dizer "And the winner is..." e, antes mesmo de abrir o envelope, a atriz Shelley Winters levantou-se da sua cadeira para dirigir-se ao palco. O ator italiano Vittorio Gasman, com quem ela foi casada de 1952 a 1954, a puxou rapidamente e os dois foram ao chão. A ridícula cena poderia ter sido um vexame completo na noite de premiação em 1952. Quando Shelley estava certa de que ganharia por "Um Lugar ao Sol", a vencedora foi Vivien Leigh em "Uma Rua Chamada Pecado".
       


Gafes e desorganização marcaram a cerimônia na fatídica noite de 6 de abril de 1959. Primeiro David Niven tropeçou e quase foi ao chão, quando corria ao palco para receber o Oscar de melhor ator por "Vidas Separadas". O discurso: "Excuse-me... I’m loaded". "Loaded", que quer dizer carregado, também é uma gíria para "de cara cheia". Niven era conhecido por seus pileques de uísque escocês. Depois a nada sutil atriz inglesa Wendy Hiller, vencedora na categoria coadjuvante pelo mesmo "Vidas Separadas" (foram sete indicações ao todo), esbravejou: "Ao diabo com a honraria... Só espero que esse prêmio signifique dinheiro. Muito dinheiro!" Por fim o mestre-de-cerimônias Jerry Lewis suou o smoking para entreter a platéia depois de todos os prêmios entregues. Os relógios marcavam 21h40, mas o horário deveria ser preenchido até as 22h. Lewis improvisou chamando Mitzi Gaynor para acompanhá-lo no número "There's no Business Like Show Business" e levou ao palco 70 celebridades, entre eles Cary Grant, Ingrid Bergman, Sophia Loren, Lawrence Olivier e Bette Davis. A música foi cantada quatro vezes e Lewis roubou a batuta do maestro Lionel Newman para reger a orquestra. Finalmente a NBC encerrou a festa, faltando ainda 10 minutos. A emissora exibiu nesse tempo um documentário sobre armas.        

     

As décadas de 40 e 50, em Hollywood, ficaram marcadas pela chamada época da "Caça às Bruxas". Havia em todos os estúdios a famosa "blacklist" (lista negra), em que atores, diretores e escritores eram acusados de envolvimento com o partido comunista. Muitos recorreram ao uso de pseudônimo para continuar trabalhando. Robert Rich, ganhador do Oscar de melhor roteiro em 1957 por "Arenas Sangrentas", é um dos casos mais famosos. Quem recebeu a estatueta no lugar de Rich foi o roteirista Jesse Lasky Jr. Mais tarde, no entanto, descobriu-se que Robert Rich não existia. Este era o pseudônimo de Dalton Trumbo, famoso jornalista que se tornou roteirista de cinema e fazia parte do Hollywood Ten, a lista dos dez mais subversivos.
       


A Academia de Hollywood já sofreu e ainda sofre severas críticas quanto à forma com que premia os indicados e principalmente por ter se tornado um evento meramente competitivo. Assim pensava o ator George C. Scott, que em 1971 concorria por "Patton, Rebelde ou Herói?" e chegou a enviar a seguinte carta à Academia: "Não pretendo ofender ninguém. Simplesmente não quero me envolver. Não comparecerei à cerimônia de entrega dos prêmios, nem qualquer representante meu". O presidente da Academia, Daniel Taradash, respondeu: "Nem a Academia nem o senhor Scott podem alterar a vontade da seção de atores que votou as indicações. Ele diz que não quer se envolver. E na realidade não se envolve. É a sua interpretação em ‘Patton’ que está envolvida’". Scott foi o vitorioso mas cumpriu sua palavra, tornando-se assim o primeiro ator a recusar um Oscar.
       


Na entrega das estatuetas em 1973, novamente um astro decidiu esnobar o prêmio. Marlon Brando, ganhador do Oscar como melhor ator em "O Poderoso Chefão", mandou em seu lugar a índia Sacheen Littlefeather. Ela fez o discurso explicando que o ator se recusava a receber o prêmio por ser contrário ao tratamento dado por Hollywood ao povo indígena. Mais tarde a imprensa descobriu que aquela jovem não era uma índia, mas sim uma atriz amadora chamada Maria Cruz, que em 1970 ganhou um conhecido concurso de miss, o Miss American Vampire.
       

A noite de 3 de abril de 1978 registrou uma ausência importante entre os indicados. O decidido Woody Allen não compareceu à festa, alegando um compromisso inadiável em Nova York. É que naquela noite ele estaria tocando clarinete com sua banda de jazz, os Ragtime Rascals, no Michael's Pub em Manhattan. "Eu sei que isso soa terrível, mas ganhar um Oscar não significa nada para mim. Quando você vê quem ganha e quem não ganha, pode perceber a falta de sentido do Oscar", disse. Allen acabou levando o Oscar de melhor diretor do ano por "Noivo