sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
Cinema!
O Segredo dos Diamantes
Aventura, Brasil, 2014.
Direção: Helvécio Ratton.
Elenco: Dira Paes, Matheus Abreu, Rachel Pimentel, Alberto Gouvêa . Duração: 86 min.
Classificação: 10 anos.
Com uma ou outra
variação no uso das palavras, o cineasta mineiro Helvécio Ratton sempre repete
a mesma ideia: fazer um cinema brasileiro e, especialmente no gênero
infanto-juvenil, com sensibilidade e inteligência. Ratton cumpre essa máxima,
outra vez, com seu mais recente trabalho, a aventura O Segredo dos Diamantes. A
única diferença é que, dessa vez, Ratton também se refere ao gênero de sua
produção como um filme para a família. É um evidente posicionamento com vistas
ao mercado - absolutamente sem nenhum demérito -, já que as crianças, como se
sabe, só vão ao cinema acompanhados pelos pais, daí a necessidade de os filmes
obrigatoriamente dialogarem também com os adultos. Ou seja, o diretor quer
falar com seu público alvo, mas principalmente que seu trabalho seja visto por
esse público.
E com O Segredo dos Diamantes Ratton novamente acertou, o que reforça ainda
mais o status de especialista no gênero infantil-família que adquiriu desde que
dirigiu uma pequena obra-prima chamada A Dança dos Bonecos, que lhe garantiu o
prêmio de melhor filme no Festival de Gramado, em 1986. O cineasta chegou a
admitir que nunca se sentiu muito confortável com este rótulo. "Eu havia
feito apenas um filme infantil e fui chamado de especialista no gênero",
comentou, lembrando ainda que a situação só se complicou quando logo em seguida
foi convidado para fazer o excelente Menino Maluquinho - O Filme, outra
produção dirigida ao público jovem.
Helvécio Ratton, como boa parte dos cineastas, jamais quis ficar preso a um só
gênero fílmico. Buscou a literatura para fazer o drama romântico Amor &
Cia, baseado no romance Alves & Cia., de Eça de Queirós, no qual um
comerciante acredita estar sendo traído pela mulher com o sócio dele; observou
a vida real e urbana para realizar Uma Onda no Ar, apresentando os jovens de
uma favela de Belo Horizonte que criam uma rádio pirata; em seguida, inspirado
no livro homônimo escrito por Frei Betto, fez Batismo de Sangue para
contar a história da participação dos freis dominicanos na luta contra a ditadura
militar no Brasil nas décadas de 1960 e 1970; e voltou a dialogar com o público
jovem em Pequenas Histórias, recriando personagens e lendas do imaginário
brasileiro, especialmente de Minas Gerais, que têm como elementos centrais o
humor e a magia.
Após tantas e ótimas experiências, Ratton agora não mais se preocupa com
rótulos. E se ele deve ter um, que seja mesmo o de mestre na construção de
histórias infanto-juvenis como a que acompanhamos neste delicioso O Segredo dos
Diamantes. Na trama, Angelo é um garoto de 14 anos que está indo visitar a avó
numa cidadezinha do interior de Minas Gerais. Na estrada, ao lado do pai e da
mãe, eles sofrem um grave acidente de carro. O pai entra em coma e precisa de
tratamento num hospital mais bem equipado do que aquele que é levado onde mora
a mãe. Mas isso custa caro e a família não tem o dinheiro necessário. Por isso
o garoto, com a ajuda de duas outras crianças, decide iniciar uma aventura
investigativa a partir de uma lenda local que diz existirem diamantes escondidos
por um padre muitos anos atrás. Mas para isso as crianças precisam antes
decifrar um enigma do século 18, escondido nas páginas de O Inferno de Dante.
Inicia-se então uma aventura frenética, com uma série de desafios e direito a
um vilão de dar medo.
O Segredo dos Diamantes lembra tudo aquilo que se viu de melhor no cinema de
aventura de Steven Spielberg, por exemplo, passando por Os Goonies, O Enigma da
Pirâmide e até mesmo a série Indiana Jones. Ratton, que neste filme teve sua
primeira experiência trabalhando com câmeras digitais, chega a um resultado da
mais precisa qualidade - contou com os mestres Lauro Escorel na fotografia e
Adrian Cooper na direção de arte. Ratton consegue criar a mais perfeita
atmosfera do cinema de aventura, numa história cheia de mistérios, sustos,
descobertas. Enfim, um filme para crianças dos oito aos oitenta.
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