segunda-feira, 2 de junho de 2014

PostHeaderIcon Cinema com Marcos Petrucelli


Coisas interessantes sobre prêmios... Você sabia que Alfred Hitchcock jamais ganhou um Oscar?



Ok, o Oscar já passou faz algum tempo! Mas esses dias conversava com uns amigos e surgiu a boa e velha discussão: "o Oscar é injusto", "o Oscar é brega", "é possível levar o prêmio a sério" e por aí vai. Quanto a ser justo ou não, mais adiante retorno ao tema. Mas brega??? O negócio é simples: quem nunca colocou os pés no auditório onde se realiza a festa da premiação da Academia não tem a menor ideia do que é aquilo. E a tendência de alguns, seja porque o tal jornalista é ranzinza ou até frustrado (vai saber...), é dizer que o Oscar é brega ou cafona.

Todos sabem e vêem, ainda que pela TV, que em matéria de espetáculo os americanos são imbatíveis. Ninguém mais do que eles sabem organizar um evento de grandes proporções, com charme e glamour. Se é possível constatar isso pela televisão, imagine lá ao vivo, coisa que tive a honra e satisfação profissional de fazer por quatro vezes! E porque motivo o Oscar influencia tanto a mídia, aqui e no mundo todo? Primeiro porque é a maior festa do gênero. São mais de 80 anos de tradição. Um evento que é televisionado para todos os cantos do mundo, que conta com a presença das maiores estrelas do cinema. É o tal negócio: quem faz a fama deita na cama. E os americanos podem fazer o que quiser, porque sabem como fazer.

Por ser tão popular, o Oscar é, ademais, referência para o público do mundo inteiro. Então não adianta esse blábláblá, achando estranho o fato de que todos querem saber quem foi indicado, quem ganha nessa ou naquela categoria. É óbvio que perguntas como essas são interessantes. São apenas questões estimulantes. É subestimar a inteligência de alguém afirmando que ela vá dizer que o filme é espetacular só porque ganhou uma indicação ao Oscar. Mas a indicação certamente vai levar mais pessoas ao cinema, apenas por curiosidade, para depois haver o julgamento. E é mais do que óbvio que as pessoas irão se guiar por essas informações, que no final servirão mesmo para nós jornalistas quando estivermos escrevendo sobre tal filme. Merecido ou não, quem ganha o prêmio Oscar é e será sempre uma referência histórica e jornalística.

Isso não acontece só no Brasil. Acontece em todas as partes. Culpa da mídia, da imprensa, que fica ditando o que é bom ou ruim? Mas a imprensa serve para quê? O que o crítico faz é isso mesmo. Ele diz se é bom ou ruim. Diz se o filme presta ou não. Diz se a música é boa ou brega. E o público vai aceitar ou não essas opiniões. Não me canso de lembrar de Larry Flynt: "Opinião é como bunda; todo mundo tem uma."

Mas falemos então da tal "injustiça" do Oscar. Na cultura americana não existe justo ou injusto; o que há sim é mérito. Posto isso, não dá mais para engolir essa história de que é injusto, por exemplo, Alfred Hitchcock nunca ter ganhado o Oscar de diretor. Vamos aos fatos. O bom e velho Hitch disputou cinco vezes a estatueta: em 1941 por "Rebecca - A Mulher Inesquecível"; em 1945 por "Um Barco e Nove Destinos"; em 1946 por "Quando Fala o Coração"; em 1955 por "Janela Indiscreta"; e em 1961 por "Psicose" (Psycho).

São todos filmes maravilhosos. Sem dúvida obras-primas do mestre do suspense. Mas alguém sabe com quem Alfred Hitchcock disputava em cada um desses anos? Alguém se lembra para quem o velho Hitch perdeu nesses anos? Então anota aí: em 1941, ganhou John Ford com "As Vinhas da Ira" - foram sete indicações; em 1945, Leo McCarey levou com "O Bom Pastor" - oito indicações e seis Oscars; em 1946, Billy Wilder foi premiado com "Farrapo Humano" - sete indicações e quatro Oscars; em 1955, Elia Kazan saiu com a estatueta por "Sindicato de Ladrões" - dez indicações (sendo três atores concorrendo como coadjuvantes) e oito Oscars; e em 1961, Billy Wilder novamente com "Se Meu Apartamento Falasse" - nove indicações e cinco Oscars. Pois é, coitado do Hitchcock... que injustiça perder para diretores tão fracos.

Quer outro exemplo batido? Charles Chaplin. Ah, o genial Chaplin. Assim como Hitchcock, Chaplin amargava por causa do gênero cinematográfico no qual se especializou. Não vale a pena nem querer discutir as possíveis razões, mas o fato é que os membros da Academia jamais foram simpáticos aos filmes de suspense e muito menos às comédias. Até hoje é assim - portanto, desse ponto de vista, coerência os velhinhos têm de sobra. Chaplin, dessa forma, sequer fora indicado como diretor. Em 1929 ele ganhou um prêmio honorário pela criação de "O Circo". Em 1941 concorreu nas categorias de roteiro e ator pelo filme "O Grande Ditador". Em 1972 recebeu outro prêmio honorário, agora pela extensa carreira. E no ano seguinte seu "Luzes da Ribalta", um filme concebido em 1952, deu a Chaplin, Raymond Rasch e Larry Russell o Oscar de trilha sonora. Uma observação: para que ninguém fique pensando "oh, mas ele não ganhou nem como ator em 1941?". Não, pelo simples fato de que concorria com um camarada chamado James Stewart, que levou a estatueta por "Núpcias de Escândalo".



Ou seja, é ingenuidade - senão desconhecimento mesmo - ficar com esse papinho furado de "injustiças do Oscar". A Academia tem os seus critérios. Gostem ou não. E de acordo com esses critérios, Hitchcock e Chaplin e tantos outros voltaram para casa com as mãos abanando. Sabendo quem são eles, e quando se diz que perderam, isso parece injustiça. Mas os dois não perderam por acaso; a disputa era com gente muito talentosa. Aliás, sabe quantas vezes Alfred Hitchcock foi premiado em Cannes? Nenhuma. Em Veneza, em Berlim? Nenhuma. Ah, o mesmo vale para o Chaplin - ok, ele ganhou um Leão de Ouro pela carreira em 1972. Agora responda: italianos, franceses e alemães são injustos? Mas esses fatos alguns jornalistas brazucas não discutem. Ou não sabem mesmo.