sexta-feira, 14 de março de 2014
Dicas de Marcos Petrucelli
12:01 | Postado por
São Paulo |
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Durante a entrega dos
Oscars, eu não havia assistido a todos os documentários indicados. Aliás, só
tinha visto "20 Feet from Stardom". E, por um lance de sorte, uma
visão divina, arrisquei dizer que ganharia na categoria. E ganhou! "20 Feet
from Stardom" é um documentário, no mínimo, espetacular. Para aqueles que
gostam e entendem de música não será difícil compreender o motivo da vitória.
Em resumo, o filme mergulha na magnífica e também árdua carreira dos backup
singers. São cantores e cantoras que, a despeito da mais alta qualidade
vocal/musical, raramente ganham destaque.
Antes de tudo, duas curiosidades que chamam a atenção: uma é que "20 Feet from Stardom" ganhou o Oscar apenas um ano depois que outro documentário musical havia sido premiado - "Searching for Sugar Man", sobre a fascinante história do cantor Sixto Rodriguez; outra é que "20 Feet..." faz um belo recorte/retrato da comunidade negra americana - no caso, dos músicos -, mas consegue ser muito mais interessante do que "12 Anos de Escravidão".
Mas o que torna "20 Feet from Stardom" realmente mágico é a riqueza e profundidade da pesquisa. Não basta apenas colher o depoimento de uma backup singer contando que esteve na banda de Luther Vandross. O diretor Morgan Neville apresenta imagens de arquivo mostrando Vandross nos ensaios com a cantora. E isso se repete com outros tantos talentos, que vão de David Bowie a Sheryl Crow, Mick Jagger a Bruce Springsteen, Joe Cocker a Elton John, Michael Jackson a Stevie Wonder. E todos eles, ainda que sejam realmente as estrelas consagradas do mundo da música, não escondem sua absoluta devoção aos seus backup singers. Alguns desses, como Merry Clayton, Patti Austin, Charlotte Crossley, Susaye Greene e Judith Hill acompanharam alguns dos maiores astros da música por décadas e diversas turnês.
É triste, no entanto, descobrir em "20 Feet from Stardom" que praticamente todos esses excelentes cantores/cantoras, que passaram suas vidas dedicando-se apenas ao "apoio vocal", não conseguiram chegar ao sucesso numa carreira solo. Muitos tentaram e é justamente ao abordar essas tentativas que o documentário de Morgan Neville torna-se ainda mais necessário para se conhecer a história da música. Merry Clayton e Susaye Greene, por exemplo, fizeram parte das The Raelettes, como eram chamadas os backup singers na banda de Ray Charles. Chegaram a lançar singles de sucesso, mas a batalha para chegar ao estrelato como artista solo foi vencida por uma indústria de forte concorrência.
São muitos os exemplos apresentados no filme, mas um se destaca. A história de Darlene Wright, que passou a se chamar Darlene Love, é certamente a mais impressionante. Darlene, ainda criança nos anos de 1950, começou a cantar em igrejas. Nos anos de 1960, foi convidada a fazer parte de um grupo vocal feminino chamado The Blossoms e assinou contrato com o lendário produtor Phil Spector. Mas quando esperava-se que o The Blossoms seguisse o caminho do estrelato, o grupo serviu apenas para destacar incríveis vozes femininas que chamariam atenção de músicos já consagrados. Darlene então fez as vezes de backup singer de Sam Cooke, Dionne Warwick, The Beach Boys, Elvis Presley, Tom Jones e Sonny and Cher. Ela era adorada por todos e foi diretamente responsável por hits como "Johnny Angel", "Poor Side of Town", "Baby I Need Your Loving" e "The Tracks of My Tears".
Após muitos discos e vários shows, sempre a alguns passos atrás das verdadeiras estrelas da música, a frustração da cantora a levou a abandonar o barco. Darlene passou toda a década de 1970 longe da música. Muito longe. Sem trabalho, mas precisando cuidar da vida e pagar suas contas, Darlene Love chegou a trabalhar como empregada doméstica. Até que um dia, limpando a casa de uma família, ela ouviu no rádio um de seus maiores sucessos, "Christmas (Baby Please Come Home)", canção que fez parte do projeto lançado em 1963 intitulado "A Christmas Gift for You from Phil Spector". Só assim ela resolveu voltar. Até reconquistar seu lugar nos palcos, soltado a voz, Darlene fez um pouco de tudo. Inclusive foi atriz. É muito provável que muitos se lembrem de Darlene Love no papel de Trish Murtaugh, a esposa do Sargento Roger Murtaugh (Danny Glover) na série "Máquina Mortífera".
Dessa forma, com uma pesquisa feita em profundidade e uma construção narrativa criativa, "20 Feet from Stardom", que deverá ser lançado no Brasil com o título "A Um Passo do Estrelato", joga os holofotes nesses incríveis talentos que sempre são mantidos à sombra dos lead singers. Imperdível!
Antes de tudo, duas curiosidades que chamam a atenção: uma é que "20 Feet from Stardom" ganhou o Oscar apenas um ano depois que outro documentário musical havia sido premiado - "Searching for Sugar Man", sobre a fascinante história do cantor Sixto Rodriguez; outra é que "20 Feet..." faz um belo recorte/retrato da comunidade negra americana - no caso, dos músicos -, mas consegue ser muito mais interessante do que "12 Anos de Escravidão".
Mas o que torna "20 Feet from Stardom" realmente mágico é a riqueza e profundidade da pesquisa. Não basta apenas colher o depoimento de uma backup singer contando que esteve na banda de Luther Vandross. O diretor Morgan Neville apresenta imagens de arquivo mostrando Vandross nos ensaios com a cantora. E isso se repete com outros tantos talentos, que vão de David Bowie a Sheryl Crow, Mick Jagger a Bruce Springsteen, Joe Cocker a Elton John, Michael Jackson a Stevie Wonder. E todos eles, ainda que sejam realmente as estrelas consagradas do mundo da música, não escondem sua absoluta devoção aos seus backup singers. Alguns desses, como Merry Clayton, Patti Austin, Charlotte Crossley, Susaye Greene e Judith Hill acompanharam alguns dos maiores astros da música por décadas e diversas turnês.
É triste, no entanto, descobrir em "20 Feet from Stardom" que praticamente todos esses excelentes cantores/cantoras, que passaram suas vidas dedicando-se apenas ao "apoio vocal", não conseguiram chegar ao sucesso numa carreira solo. Muitos tentaram e é justamente ao abordar essas tentativas que o documentário de Morgan Neville torna-se ainda mais necessário para se conhecer a história da música. Merry Clayton e Susaye Greene, por exemplo, fizeram parte das The Raelettes, como eram chamadas os backup singers na banda de Ray Charles. Chegaram a lançar singles de sucesso, mas a batalha para chegar ao estrelato como artista solo foi vencida por uma indústria de forte concorrência.
São muitos os exemplos apresentados no filme, mas um se destaca. A história de Darlene Wright, que passou a se chamar Darlene Love, é certamente a mais impressionante. Darlene, ainda criança nos anos de 1950, começou a cantar em igrejas. Nos anos de 1960, foi convidada a fazer parte de um grupo vocal feminino chamado The Blossoms e assinou contrato com o lendário produtor Phil Spector. Mas quando esperava-se que o The Blossoms seguisse o caminho do estrelato, o grupo serviu apenas para destacar incríveis vozes femininas que chamariam atenção de músicos já consagrados. Darlene então fez as vezes de backup singer de Sam Cooke, Dionne Warwick, The Beach Boys, Elvis Presley, Tom Jones e Sonny and Cher. Ela era adorada por todos e foi diretamente responsável por hits como "Johnny Angel", "Poor Side of Town", "Baby I Need Your Loving" e "The Tracks of My Tears".
Após muitos discos e vários shows, sempre a alguns passos atrás das verdadeiras estrelas da música, a frustração da cantora a levou a abandonar o barco. Darlene passou toda a década de 1970 longe da música. Muito longe. Sem trabalho, mas precisando cuidar da vida e pagar suas contas, Darlene Love chegou a trabalhar como empregada doméstica. Até que um dia, limpando a casa de uma família, ela ouviu no rádio um de seus maiores sucessos, "Christmas (Baby Please Come Home)", canção que fez parte do projeto lançado em 1963 intitulado "A Christmas Gift for You from Phil Spector". Só assim ela resolveu voltar. Até reconquistar seu lugar nos palcos, soltado a voz, Darlene fez um pouco de tudo. Inclusive foi atriz. É muito provável que muitos se lembrem de Darlene Love no papel de Trish Murtaugh, a esposa do Sargento Roger Murtaugh (Danny Glover) na série "Máquina Mortífera".
Dessa forma, com uma pesquisa feita em profundidade e uma construção narrativa criativa, "20 Feet from Stardom", que deverá ser lançado no Brasil com o título "A Um Passo do Estrelato", joga os holofotes nesses incríveis talentos que sempre são mantidos à sombra dos lead singers. Imperdível!