quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Não é "Fringe"! É "Almost Human"!
05:45 | Postado por
São Paulo |
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Os fãs de ficção cientítica até hoje sentem falta de "Fringe", uma das séries mais envolventes da história recente na TV. Criada por J.J. Abrams, Alex Kurtzman e Roberto Orci, "Fringe" em suas cinco temporadas conquistou pela riqueza de detalhes na criação de um universo - aliás, vários universos paralelos - repleto de personagens eletrizantes e outros verdadeiramente aterrorizantes, todos inseridos num ambiente que caminhava entre a linha fina que separa ficção e realidade. Impossível esquecer todos eles: a agente especial do FBI Olivia Dunham (Anna Torv), linda, astuta, sensível e desesperada; o Dr. Walter Bishop (John Noble), uma espécie de Einstein dos tempos modernos, brilhante, arguto, insano (sem contar o bom gosto para música) e aberto a todos os tipos de drogas; e Peter (Joshua Jackson), o filho (ou não) de Walter, igualmente inteligente, sagaz, rebelde, perspicaz. Há muitos outros personagens, claro. E "Fringe", com suas longas elipses, viagens no tempo e no espaço, universos se chocando, dificilmente sairá do imaginário daqueles que apreciam uma boa ficção científica.
A boa notícia, levando-se em conta a supremacia dos roteiristas da TV americana (que batem de dez a zero nos atuais profissionais do cinema), é que a criatividade não tem um freio e o público é quem sai ganhando. Difícil dizer, com apenas um episódio exibido, se "Almost Human" conseguirá superar "Fringe". Mas com certeza apresenta potencial para tanto. O primeiro dado importante é que o criador é J.H. Wyman (mais de 80 episódios de "Fringe") e a produção é do sempre genial J.J. Abrams (sem mais apresentações).
"Almost Human" conta a história de um detetive de Los Angeles chamado John Kennex (Karl Urban). Ele é um excelente profissional, um líder nato, mas que sofre um grande trauma. Numa operação policial, sua tropa é vítima de uma emboscada. Seu parceiro é gravemente ferido. Na hora da fuga, ele se nega a deixá-lo para trás. Há uma grande explosão. Ele acaba presenciando a morte do companheiro. Seu maior obstáculo, então, será superar a tragédia. Dois anos depois de um afastamento, Kennex é chamado a voltar ao trabalho. E agora enfrenta o dilema de ter de aceitar o novo parceiro.
À primeira vista pode parecer uma construção clássica de personagens para um drama de ação policial. Quem não se lembra, apenas para citar um exeplo, do enfrentamento inicial entre a dupla Martin Riggs (Mel Gibson) e Roger Murtaugh (Danny Glover) no primeiro filme da série "Máquina Mortífera"? Ocorre que "Almost Human" traz um diferencial que se ajusta à ficção científica. Quando começa a história, estamos em 2048. Trata-se de um futuro sensacional do ponto de vista tecnológico, com altos edifícios de vidro e aço, automóveis que voam, telas de computadores holográficas. E, claro, robôs. Na verdade, andróides. Quando Kennex volta à ativa, pior do que ganhar um novo parceiro é saber que este é um adróide - um humano reconstruído com elementos sintéticos. Trata-se de um modelo de última geração, muito mais forte e equipado, que traz como inovação a ausência total de qualquer memória anterior e a consequente incapacidade de um pensamento lógico. Ele não deve atrapalhar um policial, mas somente garantir a segurança do parceiro assumindo ações de alto risco. Kennex não leva algumas cenas para se desfazer daquele lixo. Mas agora, em 2050, o governo decretou uma lei que obriga qualquer policial a ter como parceiro um andróide. E o próprio Kennex escolhe o seu, um antigo modelo chamado Dorian (interpretado por Michael Ealy). Dorian não apenas tem uma aparência mais humana, como também guarda lembranças, sentimentos e possui extrema capacidade de raciocínio. Qualquer semelhança com Robocop não é coincidência.
Kennex e Dorian aparentemente formam uma boa dupla de policiais. Mas ainda assim, Kennex sofre pelo trauma daquela emboscada que matou seu parceiro. Pois ele culpa justamente a falta de consciência, julgamento e lógica de um andróide que participava da ação. Lembra da explosão? Kennex perdeu uma perna, mas prontamente recuperada graças à avançada tecnologia de membros sintéticos. E é exatamente neste detalhe que reside o grande dilema da série e colocado em dúvida no título original - Almost Human, ou Quase Humano. Temos o policial humano Kennex, que rejeita completamente sua porção andróide; e ao mesmo tempo há a máquina Dorian, cuja humanidade o faz completamente diferente de todos os outros andróides.
Ao que parece, além de entreter com boas sequências de ação policial, "Almost Human" propõe uma ótima observação e reflexão a partir das diferenças. Mas isso num primeiro olhar - porque essas mesmas diferenças podem, na verdade, ganhar muitas similaridades.
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Marcos Petrucelli