sexta-feira, 1 de novembro de 2013
Os Filmes de Kubrick
05:45 | Postado por
São Paulo |
Editar postagem
A 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo trouxe esse ano à cidade uma retrospectiva completa da obra do cineasta Stanley Kubrick. A Mostra encerrou no último dia 31 de outubro, mas ainda dá tempo de conhecer um pouco mais sobre esse genial diretor, transgressor e visionário nas artes cinematográficas. Isso porque os organizadores da Mostra foram mais longe e, a partir de uma parceria com o MIS (Museu da Imagem e do Som), também oferecem ao público a exposição STANLEY KUBRICK, que tem como objetivo investigar as obras e influências do diretor de trajetória singular no cinema mundial a partir de materiais em áudio e vídeo, objetos de cena, documentos e fotos de seus longas-metragens.
A exposição apresenta a particularidade dos filmes de Kubrick em 14 seções específicas dedicadas a clássicos como "Lolita" (1962), "2001: Uma Odisseia no Espaço" (1968), "Laranja Mecânica" (1971) e "O Iluminado" (1980). Filmes estes que também são exibidos na programação, diga-se. A exibição reúne ainda lentes originais utilizadas nos filmes, prêmios originais, vídeos, o primeiro curta do diretor, fotografias de Kubrick para a revista Look entre os anos de 1945 e 1950, além de documentos, imagens e objetos de cena de "Napoleão" e "Aryan Papers" [Documentos Arianos], projetos nunca realizados pelo cineasta. Ao final do trajeto da exposição, o público é convidado a entrar numa estação de áudio que apresenta os filmes de Kubrick a partir de uma perspectiva musical.
STANLEY KUBRICK, a exposição, foi organizada pelo Deutsches Filmmuseum Frankfurt, Christiane Kubrick e The Stanley Kubrick Archive da University of The Arts London, com o apoio da Warner Bros. Entertainment Inc., Sony-Columbia Pictures Industries Inc., Universal Studios Inc. e SK Film Archives LLC.
STANLEY KUBRICK
Exposição: Até 12 de janeiro de 2014
Terças a sextas, das 12h às 22h | Sábados, domingos e feriados, das 11h às 21h
Museu da Imagem e do Som - MIS
Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo | (11) 2117 4777 | www.mis-sp.org.br
E se o caro leitor quiser conhecer os filmes mais importantes de Kubrick, segue um resumo com o que há de melhor em sua carreira:
OS FILMES DE KUBRICK
2001: UMA ODISSEIA NO ESPAÇO
(2001: A Space Odyssey, Inglaterra, EUA, 1968)
Nos primeiros tempos do Homem, uma tribo de humanos primitivos encontra um monolito negro no deserto. Milhares de anos depois, a descoberta de outro monolito na Lua leva ao lançamento da expedição Discovery One a Júpiter, controlada pelo computador HAL 9000, para investigar a origem do objeto. A segurança da tripulação é colocada em risco quando HAL apresenta defeitos. Baseado no conto A Sentinela, de Arthur C. Clarke, o filme rendeu a Stanley Kubrick o único Oscar de sua carreira, o de efeitos visuais.
E ali estavam, dois intelectuais não religiosos, um cientista escritor e um cineasta cético e agnóstico – e ambos neste filme se curvam respeitosamente ao Incompreensível Criador do Universo, afirmando que a evolução é o maior milagre da Criação.
A MORTE PASSOU POR PERTO
(Killer's Kiss, EUA, 1955)
Davey Gordon é um boxeador em fim de carreira em Nova York, atraído pela bela dançarina Gloria. Na noite em que ele perde uma luta importante, Gloria é quase estuprada por seu chefe, Vincent. Davey consegue chegar a tempo para impedi-lo, mas Vincent pode voltar a qualquer momento.
O amor de Kubrick pela fotografia e seus anos de prática nessa área se materializam nesse “filme noir” de início de carreira, em que ele experimenta com a luz e a sombra de forma eficaz e mostra grande talento como diretor de fotografia.
BARRY LYNDON
(Barry Lyndon, Inglaterra, 1975)
Redmond Barry, um fazendeiro irlandês, sonha em fazer parte da aristocracia inglesa. Depois de muitas aventuras, ele atinge o seu objetivo seduzindo Lady Honoria Lyndon, uma viúva rica, e assumindo o lugar de seu falecido marido na alta sociedade. Com o tempo, ele terá de enfrentar a ira de Lord Bullington, seu jovem enteado. Baseado no romance The Luck of Barry Lyndon (1844), de William Thackeray.
Kubrick sempre admirou os velhos mestres e a forma como eles pintavam com pouquíssima luz – questionando se um cineasta conseguiria capturar o século 18 em sua exuberância e suas limitações, retratar um quarto iluminado por uma vela, como Rembrandt fez. Kubrick concluiu o projeto apesar de todas as dificuldades, mas foi uma luta.
DE OLHOS BEM FECHADOS
(Eyes Wide Shut, Inglaterra, EUA, 1999)
O doutor Bill Hartford leva sua esposa, Alice, para uma festa de Natal no apartamento de um de seus pacientes, Victor. Duas modelos tentam seduzi-lo, o que o leva a discutir com Alice quando ela questiona a fidelidade do marido. Durante a discussão, Alice confessa uma fantasia sexual envolvendo um oficial da marinha. Abalado com a revelação, Bill começa a vagar pelas ruas de Nova York numa noite de eventos inesperados nos quais o sexo e o perigo andam bem próximos. O último filme de Stanley Kubrick é uma livre adaptação da novela Breve Romance de Sonho, escrita por Arthur Schnitzler em 1926.
Kubrick comprou os direitos da novela de Schnitzler na década de 1970, e demorou quase 30 anos para escrever um roteiro que lhe agradava. Foi o filme mais difícil de sua vida, já que ele sabia muito bem que todos na plateia eram experts em ciúmes e fantasias sexuais. Kubrick considerava este filme sua maior contribuição para a arte do cinema.
DR. FANTÁSTICO
(Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, Inglaterra, 1964)
“Senhores, vocês não podem lutar aqui! Isto é a sala de guerra!” O psicótico general Jack D. Rippe, das Forças Aéreas, provoca um conflito internacional ao enviar aviões de bombardeio para atacar a União Soviética no auge da Guerra Fria. O presidente dos EUA trabalha em conjunto com o premiê soviético num esforço desesperado para salvar o mundo. Entra em cena então o Dr. Fantástico, ex-nazista especializado em guerras nucleares, para ajudar. Baseado no romance Red Alert, de Peter George.
O filme foi idealizado como um thriller político, até Kubrick perceber que a verdade era grotesca demais para ser crível. Ele então transformou o livro de Peter George numa comédia de humor negro, utilizando elementos cômicos para enfatizar a seriedade da história. Lembro-me de um comentário que ele fez durante a primeira Guerra do Iraque: “Espero não ter feito um documentário”.
GLÓRIA FEITA DE SANGUE
(Paths of Glory, EUA, 1957)
Primeira Guerra Mundial, 1916. O general Mireau é subornado pelo general Broulard para enviar seus soldados em uma missão suicida contra os alemães. O Coronel Dax planeja a operação com relutância, sabendo que não existem chances de vitória. O ataque é um desastre. Mireau decide usar os cem soldados sobreviventes como exemplo e acusá-los de covardia, o que pode leva-los à pena de morte. Dax, que era advogado de defesa, tenta salvar as vidas de seus colegas no tribunal militar. Baseado no romance de Humphrey Cobb.
Primeira obra-prima de Kubrick, o filme é um estudo sobre o vão e egocêntrico abuso de poder, de hierarquia e posição social. (Felizmente, tais coisas acontecem apenas nos filmes).
LARANJA MECÂNICA
(A Clockwork Orange, Inglaterra, EUA, 1971)
Alex é o líder dos “droogs”, grupo de jovens ingleses delinquentes adeptos da ultraviolência, potencializada pelo leite com drogas do Korova’s Milk Bar. Amante de sexo, roubos e Beethoven, ele é preso após ser traído pela própria gangue. Na prisão, é submetido a um tratamento psiquiátrico experimental que promete fazer com que seu impulso violento se torne repulsa. Mas quando o radicalismo é combatido com mais radicalismo, as coisas nem sempre saem como planejado. Baseado no romance de Anthony Burgess.
A história expressava perfeitamente a desconfiança de Kubrick em relação ao desenvolvimento da sociedade moderna. Sua habilidade em transformar qualquer tipo de violência num grotesco balé foi vista primeiro em Dr. Fantástico (1964), retornará em O Iluminado (1980) e na primeira parte de Nascido para Matar (1987).
LOLITA
(Lolita, EUA, Inglaterra, 1962)
Humbert Humbert, um professor britânico de literatura francesa, chega a New Hampshire para passar um verão tranquilo antes de começar a lecionar no Beardsley College. Ele encontra um quarto para alugar na casa de Charlotte Haze, uma viúva sexualmente frustrada que logo se apaixona por ele. Humbert e Charlotte acabam se casando, mas ela mal sabe que sua própria filha adolescente, Lolita, é o verdadeiro objeto de desejo de Humbert. Vladimir Nabokov escreveu o roteiro a partir de seu próprio romance, uma das obras literárias mais respeitadas do século 20, para as telas.
É um filme mais sobre Humbert Humbert, e não sobre a menina Lolita. As conquistas materiais e acadêmicas tornam-se irrelevantes quando a obsessão sexual se impõe – um tema que Kubrick retomaria em De Olhos Bem Fechados (1999).
NASCIDO PARA MATAR
(Full Metal Jacket, EUA, 1987)
Parris Island, 1967. O instrutor-chefe Sargento Hartman prepara duramente um novo grupo de fuzileiros navais para combate. Entre eles estão o recruta Joker, o recruta Cowboy e o gordo e desengonçado recruta Gomer Pyle, que logo vira alvo da fúria exigente de Hartman. Pyle é rejeitado pelo resto do grupo, mas o bullying que ele sofre logo terá sérias consequências. Em 1968, o grupo é obrigado a amadurecer na Guerra do Vietnã. Baseado no romance The Short-Timers de Gustav Hasford.
O primeiro capítulo é novamente o típico balé do exagero em Kubrick, com o objetivo de sublinhar uma verdade: a lavagem cerebral e o abuso de jovens com o intuito de transformá-los em “armas de guerra”. Um filme sobre todos os exércitos e todas as guerras.
O GRANDE GOLPE
(The Killing, EUA, 1956)
O criminoso Johnny Clay planeja um último golpe antes de se aposentar com sua namorada, Fay. Ele junta uma equipe de bandidos e monta um plano complexo para roubar dois milhões de dólares durante uma corrida de cavalos. Parece um plano perfeito, mas as coisas não acontecem exatamente como Johnny espera. Baseado no romance Clean Break, de Lionel White.
O primeiro sinal de um tema pelo qual Kubrick se interessaria por toda a vida: a loucura e a ganância humanas – nesse caso, com um desfecho que faz lembrar o escritor americano O. Henry [1862 – 1910].
O ILUMINADO
(The Shining, Inglaterra, EUA, 1980)
O escritor Jack Torrance consegue um novo trabalho cuidando do Hotel Overlook durante o inverno. Trazendo sua esposa, Wendy, e seu pequeno filho, Danny, para morar com ele no edifício isolado, ele logo descobre que o caseiro anterior enlouqueceu, matando a própria família e depois se matando. Jack passa o tempo escrevendo enquanto a neve cobre os arredores. Logo fica claro que Danny tem habilidades paranormais, podendo ver coisas que os outros não podem ver. Os três não estão sozinhos. Baseado no romance de Stephen King.
É um filme de fantasma – que maravilha! –, nada precisa ser exato e as fantasias fantasmagóricas de uma criança podem correr soltas. “Como Jack Torrance pode ter sido um zelador em 1921?” Porque é um filme sobre fantasmas e nada faz sentido mesmo. Mas o filme permite especulações sobre significados ocultos e profundos – o próprio Stanley teria se surpreendido com algumas interpretações.
SPARTACUS
(Spartacus, EUA, 1960)
Um escravo chamado Spartacus lidera uma revolta contra uma escola de gladiadores. A rebelião se espalha pela Península Italiana, e o Senador Gracchus planeja que o Comandante Marcus Publius lidere um ataque contra os escravos. Quando Glabrus é derrotado, seu mentor, o general Marcus Licinius Crassus, lidera seu próprio exército contra a revolta. Spartacus e sua tropa têm que ir para o norte e enfrentar o Império Romano. Baseado no romance de Howard Fast. O gênio de Kubrick brilha no filme, apesar de ter substituído outro diretor e não ter controle completo do filme. “Eu sou Spartacus” é o momento que muitos na plateia jamais vão esquecer.
Marcadores:
dicas,
Marcos Petrucelli