sexta-feira, 7 de junho de 2013

PostHeaderIcon Cinema: dicas da semana

Veja as estreias das telonas!


O Grande Gatsby (The Great Gatsby, Austrália, EUA, 2013) Gênero: Drama, Romance Duração: 143 min. Diretor: Baz Luhrmann Elenco: Amitabh Bachchan, Steve Bisley, Richard Carter, Jason Clarke, Adelaide Clemens, Vince Colosimo, Max Cullen, Mal Day, Elizabeth Debicki, Lisa Adam Considerado um dos maiores clássicos da literatura americana, "O Grande Gatsby", de F. Scott Fitzgerald, ganha nova adaptação pelas mãos do diretor australiano Baz Luhrmann. A história mostra a vida de Gatsby e seu dia-a-dia na sociedade em Long Island, além das lembranças de um amor perdido. Apesar das críticas negativas, achei que "O Grande Gatsby" é surpreendentemente bom. É bem verdade que é preciso se acostumar com a câmera frenética de Baz Luhrmann. Mas temos de levar em conta que o diretor filmou em 3D e, por isso mesmo, faz uso incansável de CGI. Isso lhe permitiu criar ângulos e travellings muito inusitados. Não tinha gostado do trailer, sobretudo por causa da trilha - aqui, mais uma vez e assim como em "Romeu e Julieta" e "Moulin Rouge", Baz inclui uma trilha pop (e até rap), o que causa uma sensação de anacronismo. Mas me parece fazer algum sentido se imaginarmos que a obra de F. Scott Fitzgerald, lançada em 1925 e na qual o filme se baseia, continua tremendamente atual. Um último comentário: Leonardo DiCaprio é sem dúvida um ator extraordinário.

 

------------------------- Depois da Terra (After Earth, EUA, 2013) Gênero: Ação, Aventura, Ficção Duração: 100 min. Diretor: M. Night Shyamalan Elenco: Jaden Smith, Will Smith, Sophie Okonedo, Zoe Isabella Kravitz, Glenn Morshower, Kristofer Hivju, Sacha Dhawan, Chris Geere, Diego Klattenhoff, David Denman Mil anos depois de um cataclisma ter forçado a humanidade a sair da Terra, Nova Prime se tornou o novo lar dos humanos. O lendário general Cypher Raige retorna para sua família depois de uma longa ausência a serviço, pronto para criar seu filho de 13 anos Kitai, com quem as relações são algo complicadas e distantes. Quando uma tempestade de asteroides danifica a nave de Cypher e Kitai, eles caem numa Terra perigosa e inóspita. Enquanto seu pai fica à beira da morte no cockpit da nave, Kitai deve percorrer o terreno hostil para recuperar seu sinalizador de resgate. O que se vê, então, é a corrida contra o tempo de um garoto para tentar salvar o pai. "Depois da Terra" foi muito mal nas bilheterias americanas, a crítica (lá e aqui) caiu de pau dizendo que tudo o que o papai Will Smith queria com o filme era presentear o filhote Jaden Smith - porque não deu um carrão para o menino, em vez de uma produção de 130 milhões de dólares? Ora, porque o Will Smith pode. A questão é que as picuinhas são muitas: além dessa suposta sessão de análise entre pai e filho, ainda há o fato de a direção ser de M. Night Shyamalan. Todo mundo diz -e isso até virou clichê - que Shyamalan foi muito bem com "O Sexto Sentido", quando à época chegou a ser chamado de o novo Steven Spielberg. Depois o cineasta acertou, mas não muito, em "Corpo Fechado" e "Sinais", para iniciar sua queda ladeira abaixo com "A Vila". "A Dama na Água", "Fim dos Tempos" e "O Último Mestre do Ar" foram, por assim dizer, a condenação suprema do diretor. Mas vamos ser honestos: assim como pretende todos os diretores muito autorais, M. Night Shyamalan é sem dúvida daqueles que se mantém coerentes o tempo todo. Seja em qual for o gênero, ele jamais perde de vista seus temas preferidos – a família, a morte e sobretudo o medo, o que aliás não existe nada mais cinematográfico. Com "Depois da Terra" é assim. Estamos diante de um filme de ficção científica, mas o subtexto narrativo trata justamente dos temas que Shyamalan quer discutir.

 

------------------------- Um pouco tardio, mas vale essa indicação.... O Sonho de Wadjda (Wadjda, Arábia Saudita, Alemanha, 2012) Diretor: Haifaa Al-Mansour Roteirista: Haifaa Al-Mansour Elenco: Reem Abdullah, Waad Mohammed, Abdullrahman Al Gohani, Ahd, Sultan Al Assaf, Dana Abdullilah, Rehab Ahmed, Rafa Al Sanea, Mohammed Albahry, Mariam Alghamdi, Ali Algorbani, Sara Aljaber, Mohammed Alkhozain, Maram Alkohzaim, Mariam Alkohzaim Na mitologia - ou interpretação - dos sonhos, sonhar com uma bicicleta pode ter diferentes significados.

 Para Wadjda, a personagem central de "O Sonho de Wadjda", fica evidente que isso não é apenas um devaneio. Ela pode até não ter conhecimento das inúmeras simbologias deste seu sonho, mas sabe que quer definitivamente comprar o objeto de seu desejo. Há uma razão imediata para tanto: além de se divertir, claro, ela pretende apostar uma corrida contra seu melhor amigo, Abdullah, e, mais que isso, vencê-lo. "O Sonho de Wadjda", no entanto, aprofunda-se nas possíveis interpretações de um mero desejo material. Wadjda, sem se dar conta, busca romper barreiras. Trata-se de um rompimento perfeitamente consciente para a diretora Haifaa Al-Mansour, que assina essa singular produção da Arábia Saudita - aliás, a primeira dirigida por uma mulher. E com seu olhar feminino, partindo de um propósito algo prosaico de uma garota de apenas 12 anos de idade, Al-Mansour usa a metáfora libertadora de um simples pedalar de bicicleta para desvendar a cruel situação da mulher em seu país. Wadjda quer comprar uma bicicleta, e conseguir dinheiro para tanto não chega a ser o maior dos desafios. A menina sabe se virar muito bem gravando fitas-cassetes com músicas internacionais e fazendo pulseirinhas, as quais vende às amigas da escola. Evidente que são condutas condenatórias, mas Wadjda ainda comete outros pecados: usa tênis All Star, pinta as unhas dos pés, conversa com meninos e nega-se a cobrir a cabeça com véu. Wadjda sequer sabe ler com correção o Alcorão, uma terrível violação religiosa, mas que no final das contas prova-se muito longe de seu principal delito que é querer comprar e poder andar de bicicleta.

 Isso porque, de acordo com as tradições morais e religiosas sauditas, bicicletas são apenas para os garotos e podem ser fatais para a virtude das meninas. A iminente ameaça da perda da castidade é retratada numa sequência que chega a ser cômica diante de um olhar ocidental, mas mostra o real disparate de um povo regido por uma cultura religiosa tão distante. Às escondidas, e contando com a ajuda de seu amigo, Wadjda ainda aprende a andar de bicicleta. Com a chegada repentina de sua mãe, a menina acaba caindo e logo anuncia que está sangrando. A mãe, escondendo o rosto envergonhada e sobretudo impregnada pelo temor de que a filha tenha perdido a pureza, pergunta aos prantos de onde vem o sangramento. Há incontáveis méritos em "O Sonho de Wadjda".

Mas o principal, no entanto, é a capacidade de a diretora Al-Mansour reunir de forma tão eficiente, numa mesma obra, tantas questões sobre o comportamento contraditório de seu país. Wadjda descobre que pode ganhar a quantia necessária para comprar sua bicicleta participando de um recital do Alcorão. Não basta apenas estudar, o que se mostra uma certa diversão para a garota, que usa até um videogame. Mais complicado ainda é vencer a desafiadora rigidez da diretora da escola. A enérgica senhora Hussa é uma mulher elegante, devota dos bons costumes, da moral e da religião, mas paira sobre ela a suspeita de adultério. Ultrapassa os limites da compreensão o incômodo causado pela subserviência da mãe de Wadjda, que luta a todo custo para manter-se como única esposa. Como ela não deu um filho homem ao marido, este está próximo de contrair novo matrimônio - o que as leis lhe permitem. É triste, nesse momento, quando Wadjda percebe que seu nome (e de nenhuma outra mulher) não tem referência na árvore genealógica feita pelo pai.

 Aliás, a despeito de toda a contradição e sobretudo quanto ao aspecto patriarcal e machista dessa sociedade, o pai de Wadjda mostra-se sempre um homem carinhoso. Diz amar a esposa e a filha. Chega a dar um presente à menina. O problema é que o presente é uma pedra vulcânica, escura e resistente. E no ambiente em que é narrada a história de "O Sonho de Wadjda", o subúrbio árido e descolorido de Riade, a capital da Arábia Saudita, mais uma pedra no caminho de Wadjda era tudo o que ela não precisava.