sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
HISTÓRIAS DO OSCAR QUE NINGUÉM CONTA
09:55 | Postado por
São Paulo |
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O comediante Will Rogers era um dos mestres-de-cerimônia na festa de 1934, quando protagonizou duas das gafes mais memoráveis. Primeiro provocou constrangimento na hora de anunciar a atriz vencedora da noite, chamando May Robinson e Diana Wynyard simultaneamente. Na dúvida, nenhuma delas tomou a iniciativa de se levantar. Melhor assim, já que imediatamente Rogers se desculpou e disse que a vencedora de fato era Katharine Hepburn, por "Manhã de Glória".
Ao final da festa, Rogers iria entregar o prêmio de melhor direção. Ele apenas bateu os olhos na ficha e em seguida disse olhando para o suposto vencedor: "Venha buscá-lo, Frank". Frank Capra, que concorria por "Dama por um Dia", pulou da sua cadeira e andou até o palco. No meio do caminho Rogers se corrigiu e anunciou que o vencedor era Frank Lloyd, por "Cavalgada". Em sua autobiografia, "The Name Above The Title", Capra descreveu aquele momento: "A mais longa, triste e difícil caminhada da minha vida."
Por mais improvável que possa parecer, a Academia registra pelo menos um caso histórico de roubo. O episódio, ocorrido em 1937, só ganha ares de comicidade por que se deu justamente durante a cerimônia e na frente de todo mundo. Alice Brady foi anunciada a vencedora na categoria de atriz coadjuvante, pelo filme "Na Velha Chicago". Brady não compareceu à festa e tampouco mandou um representante. Mas eis que um desconhecido se dirigiu ao palco, recebeu o prêmio, agradeceu e foi embora livre e desimpedido para nunca mais aparecer. A Academia só tomou alguma providência dez dias depois, enviando à atriz um novo Oscar.
Um dos momentos mais admiráveis na edição do Oscar em 1939 foi o prêmio especial concedido pela Academia a Walt Disney, por sua inesquecível criação "Branca de Neve e os Sete Anões". O maior mestre da animação de todos os tempos foi recebido pela pequena Shirley Temple, que lhe entregou a tradicional estatueta e mais sete réplicas em miniatura representando os anões do desenho. Disney tentava conter a emoção ao ouvir a garota: "Não são bonitos e brilhantes, senhor Disney?" Ele respondeu: "Sim, estou tão orgulhoso que vou chorar". Shirley Temple, então com dez anos, pediu graciosamente: "Não faça isso!" Os convidados aplaudiram de pé.
O ano de 1939 também marcou fatos até então inéditos na História da Academia. Pela primeira vez uma atriz negra não só comparecia à cerimônia, como também ganhava um Oscar. Trata-se de Hattie MacDaniel, que levou o prêmio de melhor atriz coadjuvante por "...E o Vento Levou". Pelo mesmo filme, a estreante em Hollywood Vivien Leigh chegava à consagração quando anunciaram seu nome como a melhor atriz do ano. Leigh foi a primeira inglesa a receber um Oscar. Assediada à exaustão pela imprensa, a atriz não conseguiu sequer jantar durante o banquete oferecido após a premiação.
Muitos dizem que a vitória de James Stewart em 1941, por seu papel de um repórter no filme "Núpcias de Escândalo", era uma forma de a Academia compensar o ator pela injustiça no ano anterior, quando concorria por "A Mulher Faz o Homem". O fato é que algum tempo mais tarde constatou-se que a estatueta de Stewart havia desaparecido. E ele mesmo revelaria, anos depois, que seu Oscar estava guardado numa caixa de vidro na loja de ferragens do pai. Foi na cerimônia de 1941 que passaram a utilizar os envelopes lacrados, garantindo o sigilo dos resultados e o suspense na premiação. No ano anterior, o jornal Los Angeles Times havia publicado, horas antes, a lista completa dos vencedores.
Gafes e desorganização marcaram a cerimônia na fatídica noite de 6 de abril de 1959. Primeiro David Niven tropeçou e quase foi ao chão, quando corria ao palco para receber o Oscar de melhor ator por "Vidas Separadas". O discurso: "Excuse-me... I’m loaded". "Loaded", que quer dizer carregado, também é uma gíria para "de cara cheia". Niven era conhecido por seus pileques de uísque escocês. Depois a nada sutil atriz inglesa Wendy Hiller, vencedora na categoria coadjuvante pelo mesmo "Vidas Separadas" (foram sete indicações ao todo), esbravejou: "Ao diabo com a honraria... Só espero que esse prêmio signifique dinheiro. Muito dinheiro!" Por fim o mestre-de-cerimônias Jerry Lewis suou o smoking para entreter a platéia depois de todos os prêmios entregues. Os relógios marcavam 21h40, mas o horário deveria ser preenchido até as 22h. Lewis improvisou chamando Mitzi Gaynor para acompanhá-lo no número "There's no Business Like Show Business" e levou ao palco 70 celebridades, entre eles Cary Grant, Ingrid Bergman, Sophia Loren, Lawrence Olivier e Bette Davis. A música foi cantada quatro vezes e Lewis roubou a batuta do maestro Lionel Newman para reger a orquestra. Finalmente a NBC encerrou a festa, faltando ainda 10 minutos. A emissora exibiu nesse tempo um documentário sobre armas.
Fato também inédito marcou a apresentação de Ingrid Bergman em 1969, quando ela abriu o envelope para anunciar o Oscar de melhor atriz do ano. Ao entoar a frase "E o vencedor é...", olhou para baixo e viu dois nomes. Entre a dúvida e o espanto, Bergman engoliu a seco mas saiu-se bem para não errar na concordância: "... é um empate". E assim chamou ao palco as vencedoras da noite, Katharine Hepburn, por "O Leão no Inverno", e Barbra Streisand, por "Funny Girl, A Garota Genial". "Olá, lindo", balbuciou Barbra Streisand olhando diretamente para a estatueta. "O primeiro script de ‘Funny Girl’ foi escrito quando eu tinha onze anos. Graças a Deus que demorou todo esse tempo para acertarem", disse ela ao público. Até hoje este é o único empate registrado nesta categoria.
Na entrega das estatuetas em 1973, novamente um astro decidiu esnobar o prêmio. Marlon Brando, ganhador do Oscar como melhor ator em "O Poderoso Chefão", mandou em seu lugar a índia Sacheen Littlefeather. Ela fez o discurso explicando que o ator se recusava a receber o prêmio por ser contrário ao tratamento dado por Hollywood ao povo indígena. Mais tarde a imprensa descobriu que aquela jovem não era uma índia, mas sim uma atriz amadora chamada Maria Cruz, que em 1970 ganhou um conhecido concurso de miss, o Miss American Vampire.
A noite de 3 de abril de 1978 registrou uma ausência importante entre os indicados. O decidido Woody Allen não compareceu à festa, alegando um compromisso inadiável em Nova York. É que naquela noite ele estaria tocando clarinete com sua banda de jazz, os Ragtime Rascals, no Michael's Pub em Manhattan. "Eu sei que isso soa terrível, mas ganhar um Oscar não significa nada para mim. Quando você vê quem ganha e quem não ganha, pode perceber a falta de sentido do Oscar", disse. Allen acabou levando o Oscar de melhor diretor do ano por "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa".
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